A História da Ciência e as Pandemias em Portugal e no Mundo

Isilda Rodrigues, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (isilda@utad.pt)

Carlos Fiolhais, Centro de Física da Universidade de Coimbra (tcarlos@uc.pt)

Francisco Gil, Universidade do Algarve (fgil@ualg.pt)

 

Como referenciar este texto:
Rodrigues, I., Fiolhais, C., & Gil, F. (2022). A História da Ciência e as Pandemias em Portugal e no Mundo. RevistaMultidisciplinar.com, 4(2), 3-4. https://doi.org/10.23882/rmd.22102

 

Em 11 de Março de 2020, a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia de COVID-19, que foi e continua a ser espalhada por um novo coronavírus, o SARSCoV-2. A Humanidade viu-se, de repente, confrontada com uma ameaça não só para os seus sistemas de saúde, mas também, mais em geral, para os seus sistemas económicos. sociais e políticos.

Não se tratava, porém, de uma surpresa completa, pois zoonoses, transferências de microorganismos de animais para seres humanos têm vindo a ocorrer ao longo da História. Na Antiguidade Clássica ocorreram grandes pestes que voltaram a aparecer, com um terrível impacto, na Idade Média. Cedo se percebeu empiricamente a necessidade de distanciamento e de higiene. A varíola foi responsável por enorme mortalidade na Idade Moderna quando os navegadores e conquistadores se estabeleceram no continente americano. A varíola só começou – e lentamente – a ser controlada a partir do momento em que o médico inglês Edward Jenner inventou uma vacina no final do século XVIII, a primeira vacina da História, que teve tanto êxito que hoje a doença se pode considerar erradicada. A tuberculose foi uma infeção bacteriana que originou muitas vítimas nos séculos XIX e XX e para a qual a vacina BCG se revelou bastante eficaz como meio preventivo, tal como os antibióticos se revelaram um meio terapêutico muito adequado. Outras doenças contagiosas fizeram numerosas vítimas: a cólera, a febre amarela, a poliomielite e, nos nossos dias, a SIDA. Já tinha havido outras pandemias de gripe e haveria de haver mais depois, mas a gripe espanhola de 1918-1919 foi extremamente letal em todo o mundo, ao provocar mais de 50 milhões de mortos.

Mesmo que para certas doenças não tendo ainda sido encontrada uma vacina (como é o caso da SIDA) os progressos proporcionados por avanços na química, na biologia, na medicina e na farmácia foram extraordinários ao longo do tempo. No século XIX identificaram-se os agentes causadores da doença – as bactérias e os vírus – mas foi só no século XX é que ficaram conhecidos os seus genomas e se percebeu o modo como os microrganismos invadem e atacam o nosso organismo ou o de outros seres vivos. Todos esses avanços culminaram nas vacinas revolucionárias, baseadas na genómica, que foram em tempo recorde criadas, testadas e aprovadas no ano de 2020 para a COVID-19.

A COVID-19 interferiu nas nossas vidas, mudando por exemplo a rotina das escolas e a agenda da investigação científica. Como, para a compreender melhor, é forçoso conhecer minimamente a longa história das pandemias e epidemias, o tema dessa história ganhou reforçado interesse. Já não era só nas poucas disciplinas de História da Ciência e da Medicina nas escolas de ensino superior que o tema aparecia, porque outras disciplinas académicas e até a comunicação de ciência em geral solicitavam informações e esclarecimentos sobre o assunto. Muitos novos artigos e livros foram aparecendo.

Correspondendo ao interesse geral, reunimos neste livro um conjunto de artigos sobre a história das pandemias, que tratam o tema no contexto mundial e muito em especial no contexto português. Os tópicos escolhidos correspondem aos interesses dos investigadores que gentilmente se dispuseram a colaborar. Os dois primeiros artigos abordam a peste, a grande pandemia medieval que, em 1899, no Porto ainda grassou. O terceiro apresenta uma breve história da tuberculose em Portugal, com ênfase na receção das inovações realizadas no estrangeiro. O quarto aborda a fértil relação entre química e saúde pública, cuja relevância foi crescendo a partir do século XIX. O quinto faz um estudo do médico francês Jules Héricourt, que viveu entre os séculos XIX e XX. O sexto trata a gripe espanhola e as lições que ela permitiu tirar. O sétimo aborda os vírus, partículas que eram muito mal conhecidas no tempo da gripe espanhola. Finalmente, o oitavo e o nono tratam a atual questão da COVID-19, um a sua evolução em Portugal e o outro o modo como a História da Ciência foi capaz de usar o tema nas suas vertentes de investigação e de pedagogia.

Os organizadores agradecem não só aos autores, mas também a todos aqueles que tornaram este volume possível. Esperam que ele seja útil e que motive novas investigações e sínteses sobre um tema essencial da Ciência e da História.

Isilda Rodrigues
Carlos Fiolhais
Francisco Gil