Recebido: 25-07-2022 | Aprovado: 12-09-2022
Victor Hugo Palma, Centro de Investigação em Turismo, Sustentabilidade e Bem-estar (CinTurs) e Universidade do Algarve (victorhugopalma@sapo.pt)
Pedro Pechorro, Centro de Investigação em Psicologia (CIP) e Universidade do Algarve (ppechorro@gmail.com)
Saúl Neves de Jesus, Centro de Investigação em Turismo, Sustentabilidade e Bem-estar (CinTurs) e Universidade do Algarve (snjesus@ualg.pt)
Cristina Nunes, Centro de Investigação em Psicologia (CIP) e Universidade do Algarve (csnunes@ualg.pt)
Como citar este artigo:
Palma, V. H., Pechorro, P., Neves de Jesus, S., & Nunes, C. (2023).
Validação do Conduct Disorder Screener entre jovens portugueses.
RevistaMultidisciplinar, 5(1), 115–140.
https://doi.org/10.23882/rmd.23118
Resumo: A Perturbação do Comportamento (PC) pode estar relacionada com comportamentos de delinquência persistente e severa na adolescência. Pode prolongar-se na idade adulta e ser precursora da Perturbação Antissocial da Personalidade (PAP). Considerando o forte consenso relativamente à necessidade de prevenção e intervenção precoce nos jovens com PC, pelo impacto negativo que estes causam na sociedade, o Conduct Disorder Screener (CDS) pode preencher uma lacuna significativa na obtenção rápida de dados relevantes sobre a PC em adolescentes e dar um importante contributo para a sua investigação no nosso País. O objetivo do presente estudo consistiu na validação do CDS numa amostra total de adolescentes portugueses (N = 601; M idade = 15.95 anos; DP = 1.05 anos; amplitude = 13-18 anos), subdividida em grupo masculino forense, grupo masculino escolar e grupo feminino escolar. A escala demonstrou adequadas características psicométricas, nomeadamente em termos de estrutura fatorial unidimensional, consistência interna por alfa de Cronbach e coeficiente Omega, validade convergente, validade divergente, validade de critério e validade de grupos-conhecidos. Considerando os resultados obtidos, justifica-se a sua utilização em contexto forense e escolar, para identificar PC em adolescentes portugueses.
Palavras-chave: Adolescência, Perturbação do comportamento, Validação.
Introdução
Os primeiros sintomas significativos da Perturbação do Comportamento (PC)
ocorrem geralmente entre a segunda infância e o meio da adolescência, sendo esta
mais frequente nos indivíduos do sexo masculino
(American
Psychiatric Association [APA], 2014; Frick & Viding, 2009;
Rijo, Brazão, Silva, & Vagos, 2017). Pode ser
diagnosticada na idade adulta, porém, é raro ocorrer depois dos 16 anos de idade.
Quando a PC tem início na
infância é
maior a probabilidade de ocorrerem
perturbações diversas (e.g., ansiedade, depressiva, aprendizagem) (APA, 2014;
Rijo et al., 2017), de ser severa e prolongar-se pela idade adulta (APA, 2014).
Quando os jovens apresentam emoções
pró-sociais limitadas (e.g., traços de ausência de emoções, insensibilidade à
punição,
violação das normas sociais, recurso frequente a comportamentos violentos para
obtenção de benefícios instrumentais),
ao atingirem a idade adulta pode colocar-se a hipótese de diagnóstico de
Perturbação Antissocial da Personalidade (PAP) (APA, 2014; Frick et al., 2009; Rijo et al., 2017). Quando a PC ocorre na adolescência,
considerada de início tardio, a probabilidade dos jovens apresentarem
comportamentos violentos é menor e a tendência para relacionamentos normativos
com os pares aumenta. Quando apresentam sintomas ligeiros pode ocorrer um
adequado ajustamento social e ocupacional, porém, podem surgir comportamentos
disfuncionais dirigidos a outras pessoas. Nestes casos é menor a probabilidade
da PC persistir até à idade adulta (APA, 2014; Frick et
al., 2009).
Os fatores de risco da PC, relacionados com a família são: negligência e
rejeição pelos pais (Ogilvie, Newman, Todd, & Peck, 2014),
criminalidade parental, psicopatologias familiares (APA, 2014), relação
conflitual entre os pais (Dandreaux & Frick, 2009), abuso físico ou sexual
(APA, 2014; Ogilvie et al., 2014),
institucionalização precoce e frequente mudança de cuidadores. Os fatores de
risco relacionados com a comunidade podem incluir a rejeição pelos pares,
associação com grupo de pares desviantes (APA, 2014) e baixo nível
socioeconómico (NSE) (Farrington, 2005). A PC pode
comprometer o desempenho escolar (e.g., dificuldades de adaptação, suspensões,
expulsões, abandono, baixa motivação para a aprendizagem geradora de
indisciplina na sala de aula) (Biederman, Petty, Hughes, Mick, Monuteaux, &
Faraone, 2008; Rijo et al., 2017; Jesus, 2008).
O Conduct Disorder Screener (CDS; Lewinsohn, Rohde, &
Farrington, 2000),
foi desenvolvido no âmbito do Oregon Adolescent Depression Project
(OADP), um estudo longitudinal sobre depressão em adolescentes, do Oregon
Research Institute, iniciado em 1986. Uma
característica da Perturbação Depressiva Major (PDM) nos adolescentes, detetada
no OADP, foi a ocorrência de comorbilidade registada em 43% dos participantes.
Entre outras, a PDM ocorria em simultâneo com a PC (Rohde, Lewinsohn, & Seeley,
1991). O objetivo do CDS foi identificar adolescentes com PC e
avaliar a capacidade de prever PAP aos 24 anos de idade.
No primeiro momento de observação (T1), a amostra aleatoriamente selecionada em
9 escolas do oeste do Oregon, foi constituída por 1.709 estudantes de ambos os
sexos (M idade
= 16.6 anos; DP = 1.2 anos). O
segundo momento de observação (T2) ocorreu cerca de um ano mais tarde após o
(T1), com os adolescentes que aceitaram continuar a participar no estudo, sendo
a amostra constituída por 1.507 participantes (M idade = 17.7 anos; DP =
1.2 anos). No terceiro momento de observação (T3) participaram 940 pessoas de
ambos os sexos que, tinham participado no T2, depois de terem completado 24 anos
de idade (M idade = 24.2 anos;
DP = .60 anos) (Rohde,
Lewinsohn, & Seeley, 1997). Os resultados obtidos
sugeriram que o instrumento pode ser uma medida de triagem eficaz para a PC em
adolescentes, tendo apresentado boas características psicométricas. Considerando
o sexo não foram encontradas diferenças significativas na capacidade de triagem.
O desempenho do CDS não diferiu significativamente das medidas mais longas para
pais como a Child Behavior Checklist (CBCL; Achenbach, 1991) e
adolescentes como o Youth Self-Report (YSR; Achenbach & Edelbrock, 1987),
também utilizadas em Portugal (e.g.,
Achenbach, Rescorla, Dias,
Ramalho, Lima, Machado, & Gonçalves, 2014). Deve salientar-se a
capacidade preditiva do instrumento no diagnóstico de PAP, por ter identificado
75% dos casos (Lewinsohn et
al., 2000). Embora o CDS tenha sido
utilizado em diversos estudos (e.g.,
Gudjonsson, Sigurdsson, Sigfusdottir, &
Young, 2014; Mann, Kristjansson, &
Sigfusdottir, 2016; Young, Misch, Collins, & Gudjonsson, 2011) não foram por nós
encontradas validações do instrumento.
A validação do instrumento ocorreu pela escassez de medidas breves para
adolescentes, validadas para a população portuguesa em contexto forense e
escolar. A opção pela utilização de medidas breves está relacionada com as
vantagens (e.g., o tempo de resposta é menor, influência na motivação e fadiga)
(Rammstedt & Beierlein, 2014) em contexto clínico e de investigação, em especial
quando são aplicadas a jovens. A validação do instrumento garante as suas
adequadas propriedades psicométricas (e.g., validade de construto, validade
convergente, fiabilidade) (Borrajo,
Gámex-Guadix, Pereda, & Calvete, 2015;
Simões, Almeida, & Gonçalves, 2017). Antes da aplicação de um instrumento de
avaliação, deve verificar-se se o mesmo foi validado para um grupo de pessoas
com características idênticas (e.g., idade, sexo, escolaridade) e contexto
específico (e.g., Psicologia forense, Psicologia clínica, Psicologia
educacional) (Leite, 2011; Nunes, 2011). Pelo anteriormente referido é para nós
importante a disponibilização de uma versão portuguesa do CDS, devidamente
validada, para ser utilizada na triagem da PC em adolescentes e em estudos
futuros. Esta é uma perturbação cujo início é cada vez mais precoce, pode
potenciar comportamentos de risco na adolescência e manter-se na idade adulta,
com elevados custos sociais e económicos para o indivíduo, respetivas famílias e
sociedade
(Hutchings, Bywater, & Daley, 2007).
O objetivo do presente estudo foi
a validação do CDS numa amostra de adolescentes de ambos os sexos, em contexto
forense e escolar, onde se colocaram as hipóteses de que, este, irá demonstrar:
1) Estrutura fatorial unidimensional; 2) Adequada consistência interna medida
por alfa de Cronbach e coeficiente Omega; 3) Adequada validade convergente com
medidas de avaliação de traços psicopáticos, traços de tríade negra,
impulsividade, delinquência juvenil, violência entre pares e validade divergente
com medidas de motivação para a aprendizagem escolar e autocontrolo; 4) Adequada
validade de critério (concorrente) com sintomas de perturbação do
comportamento, índice de gravidade dos crimes, idade do primeiro problema com a
lei;
5) Adequada validade de grupos-conhecidos.
Método
Participantes
A amostra total foi constituída por 601 participantes (M idade = 15.95 anos; DP =
1.05 anos; amplitude = 13-18 anos),
subdividida em grupo masculino forense (n = 131; M
idade = 16.09 anos; DP = 1.14
anos; amplitude = 13-18 anos), grupo masculino escolar (n = 257; M
idade = 15.97 anos; DP = .98
anos; amplitude = 14-18 anos) e grupo feminino escolar (n = 213; M
idade = 15.75 anos; DP = 1.07
anos; amplitude = 14-18 anos). Os participantes do grupo masculino forense
encontravam-se detidos a nível nacional nos Centros Educativos (CE) da Direção
Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), aos
quais foi aplicada pelo tribunal a medida tutelar-educativa de internamento. Os
participantes dos grupos masculino e feminino
escolar encontravam-se a frequentar o ensino básico ou secundário em
estabelecimentos públicos das regiões do Algarve, Alentejo e Grande Lisboa.
Instrumentos
O Conduct Disorder Screener (CDS; Lewinsohn et al., 2000) é uma medida
breve de autorrelato, composta por 6 itens, concebida para avaliar Perturbação
do Comportamento em adolescentes. A escala pode ser pontuada adicionando os
itens (1- Quebrei regras em casa, 2- Quebrei regras na escola, 3- Entrei em
brigas/lutas, 4- Faltei às aulas, 5- Fugi de casa, 6- Meti-me em problemas por
mentir ou roubar) numa escala ordinal de 4 pontos (1 = Nunca/Quase nunca; 2 =
Algumas vezes; 3 = Muitas vezes; 4 = Quase sempre/ Sempre). Resultados mais elevados
indicam níveis mais elevados de perturbação do comportamento.
A consistência interna da nossa versão do instrumento será apresentada no
Tabela 3.
O Youth Psychopathic Traits
Inventory-Triarchic-Short
(YPI-TRI-S;
Pechorro, DeLisi, Alberto,
Ray, & Simões.,
2019a)
é uma medida de 21 itens
concebida para avaliar traços psicopáticos em jovens na perspetiva do modelo
triárquico de psicopatia. Cada item é pontuado numa escala ordinal de 4 pontos
(0 = Discordo muito; 1 = Discordo; 2 = Concordo; 3 = Concordo muito). O
YPI-Tri-S é composto por três subescalas, a saber: Ousadia
(Boldness) (7 itens), Desinibição (Disinhibition)
(7 itens) e Malvadez (Meanness) (7
itens), sendo que, a obtenção de valores mais elevados,
refletem a presença de níveis mais elevados de traços triárquicos de
psicopatia. No presente estudo, a
consistência interna medida
pelo alfa de Cronbach foi de
.95.
A
Dirty Dozen (DD; Jonason & Webster, 2010)
é uma medida breve de autorrelato de 12 itens, concebida para avaliar traços de
tríade negra,
composta por três subescalas, a saber: Maquiavelismo (e.g., Já enganei ou menti
para obter o que eu queria), Narcisismo (e.g., Tenho tendência a querer que as
outras pessoas sintam admiração por mim) e Psicopatia (e.g., Não costumo sentir
remorsos ou arrependimento).
Cada item é pontuado numa escala ordinal de 5
pontos (1 = Nunca/Quase nunca; 2 = Poucas vezes; 3 = Algumas vezes; 4 = Muitas
vezes; 5 = Quase sempre/ Sempre), sendo que, a obtenção de valores mais
elevados, refletem a presença de níveis mais elevados de traços de tríade negra.
Na presente investigação foi utilizada a validação portuguesa da DD (Pechorro, Jonason, Raposo,
& Marôco, 2019c), tendo sido obtida,
no presente estudo, uma consistência interna medida pelo alfa de
Cronbach de .92.
A
SUPPS-P Impulsive Behavior Scale (SUPPS-P;
Pechorro, Revilla, Palma, Nunes, Martins, & Cyders, 2021) é uma medida breve de autorrelato de 20 itens, concebida
para avaliar a impulsividade, composta por cinco subescalas, que correspondem a cinco
traços de impulsividade, a saber: Urgência positiva (itens 3, 10, 17 e 20),
Urgência negativa (itens 6, 8, 13 e 15), Falta de premeditação (itens 2, 5, 12 e
19), Falta de perseverança (itens 1, 4, 7 e 11) e Busca de sensações (itens 9,
14, 16 e 18). Depois de inverter o resultado dos itens apropriados (1, 2, 4, 5,
7, 11, 12 e 19), cada item é pontuado numa
escala ordinal de 4 pontos (4 = Discordo muito; 3 = Discordo; 2 = Concordo; 1 =
Concordo muito). A obtenção de valores mais elevados, refletem a presença de
níveis mais elevados de impulsividade. Na presente investigação a
consistência interna medida pelo alfa de
Cronbach foi de .92.
A Brief Self-Control Scale (BSCS; Tangney, Baumeister, & Boone, 2004) é
uma medida breve de autorrelato de 13 itens, concebida para avaliar o
autocontrolo geral. A escala pode ser pontuada, depois de inverter o resultado
dos itens apropriados (1, 2, 3, 4, 6, 9, 10, 12 e 13) adicionando os itens
(e,g., Resisto bem às tentações) numa escala ordinal de 5 pontos (0 = Nunca/
Quase nunca; 1 = Poucas vezes; 2 = Algumas vezes; 3 = Muitas vezes; 4 = Quase
sempre/ Sempre), em que, resultados mais elevados, indicam níveis mais elevados
de autocontrolo. Nesta investigação foi utilizada uma validação portuguesa da
BSCS (Pechorro, Pontes, DeLisi,
Alberto, & Simões
2018a), onde, no presente estudo, foi obtida uma
consistência interna medida pelo alfa de
Cronbach de .93.
A Add Health Self-Report Delinquency (AHSRD; Udry, 2003) foi elaborado
para o National Longitudinal Study of Adolescent Health (Add Health), um estudo
prospetivo com adolescentes americanos do 7º ao 12º ano de escolaridade. A
escala é pontuada adicionando os 10 itens do Factor Não-violento (e,g., Tiraste
coisas de uma loja sem pagares) e os sete itens do Factor Violento (e.g.,
Puxaste de uma faca ou arma para ameaçar alguém), considerando uma escala
ordinal de 5 pontos (0 = Nunca/ Quase nunca; 1 = Poucas vezes; 2 = Algumas
vezes; 3 = Muitas vezes; 4 = Quase sempre/ Sempre). Pontuações mais elevadas
indicam níveis mais elevados de delinquência juvenil. Nesta investigação foi
utilizada a validação portuguesa da AHSRD (Pechorro, Moreira, Basto-Pereira,
Oliveira, & Ray, 2019b), onde foi obtida, no presente estudo, uma consistência
interna medida pelo alfa de Cronbach
de .96.
A
Brief Peer Conflict Scale (PCS-20;
Russell, 2014)
é uma
medida breve de 20 itens concebida para avaliar a
violência entre pares. Cada item é pontuado numa escala ordinal de 4 pontos (0 =
Discordo muito; 1 = Discordo; 2 = Concordo; 3 = Concordo muito). O PCS-20 é
composto por 4 dimensões, a saber: Reativa relacional (5 itens), Proativa
relacional (5 itens), Reativa aberta (5 itens) e Proativa aberta (5 itens). A
obtenção de valores mais elevados, refletem a presença de níveis mais elevados
de violência entre pares.
Nesta
investigação foi utilizada a validação portuguesa da PCS-20 (Pechorro, Russel, Nunes, &
Nunes, 2018b), tendo sido obtida, no presente estudo, uma
consistência interna medida pelo alfa de
Cronbach de .95.
A Escala de
Motivação para a Aprendizagem Escolar (EMAE; Imaginário, Jesus, Morais,
Fernandes, Santos, Santos, & Azevedo, 2014) é uma medida breve de autorrelato de
14 itens, concebida para avaliar a motivação para a aprendizagem escolar. A
escala pode ser pontuada, depois de se inverter os itens apropriados (5, 6, 8,
9, 11, 13 e 14), adicionando os itens (e,g., Na sala de aula, gosto de fazer as
tarefas propostas) numa escala ordinal de 6 pontos (1 = Discordo totalmente; 2 =
Discordo; 3 = Discordo parcialmente; 4 = Concordo parcialmente; 5 = Concordo; 6
= Concordo totalmente). Resultados mais elevados, indicam níveis mais elevados
de motivação para a aprendizagem escolar. No presente estudo, a consistência
interna medida pelo alfa de Cronbach
foi de .92.
Os 15 critérios para o diagnóstico de Perturbação do Comportamento, de acordo
com os critérios oficiais do DSM-5 (APA, 2014) foram utilizados para criar uma
escala de autorresposta (Skilling, Quinsey, & Craig, 2001). Os
15 itens codificados (0 = Não; 1 = Sim)
foram somados para obter uma pontuação total, de forma que
pontuações mais altas indicam maior presença de sintomas de perturbação
do comportamento.
Na presente investigação a
consistência interna medida pelo alfa de
Cronbach foi de .92.
O Índice de Gravidade do Crime (Index of Crime Severity-ICS; Wolfgang,
Figlio, Tracy, & Singer, 1985, cit. por
Braga, Pechorro, Jesus, & Gonçalves,
2018) serviu para classificar a gravidade dos crimes cometidos. O nível 0
representa delinquência ausente; o nível 1 representa delinquência menor
cometida no seu agregado familiar (e.g., roubar pequenas quantias de dinheiro em
casa); o nível 2 representa delinquência menor fora de casa, incluindo roubar
algo de valor inferior a 5 euros, vandalismo e pequena fraude (e.g., não pagar o
bilhete de autocarro); o nível 3 representa delinquência de moderada a grave
como roubar algo de valor superior a 5 euros, envolvimento em gangues e porte de
armas (e.g., faca, pistola); o nível 4 representa delinquência grave, tal como o
roubo de carros, motas e arrombamento e invasão de domicílio; o nível 5
representa a prática de pelo menos dois dos comportamentos descritos no nível
anterior ou ter praticado crimes violentos contra pessoas, agressões com armas
(e.g., pau, faca, pistola) ou agressões físicas (e.g., murros, pontapés).
As
características sociodemográficas e criminais da amostra foram recolhidas
através de um Questionário Sociodemográfico e Criminal (QSC), construído para a
presente investigação, onde foram recolhidos os seguintes dados:
Sociodemográficos (e.g., idade, sexo, nacionalidade dos pais, nacionalidade e
escolaridade dos participantes, escolaridade, nível socioeconómico e estado
civil dos pais) e Criminais (e.g., ocorreram problemas com a lei, idade do
primeiro problema com a lei, tipo de problema que ocorreu).
Foi solicitada a
autorização do autor principal do Conduct Disorder Screener (CDS;
Lewinsohn et al., 2000), para a tradução e utilização do instrumento em
Portugal. Ao longo do processo de tradução e adaptação foram seguidas as
recomendações internacionalmente estabelecidas (Hambleton, Merenda, &
Spielberger, 2005). A tradução do instrumento original de língua inglesa para
português foi efetuada por um tradutor bilingue com experiência em validação de
escalas na área da avaliação psicológica. Posteriormente um psicólogo
e um tradutor bilingue fizeram a retroversão para inglês. Seguidamente, ocorreu
uma revisão técnica, realizada por dois professores universitários, bilingues,
especializados em validação de escalas na área da avaliação psicológica. A
versão obtida foi sujeita a um pré-teste na qual participaram 25 adolescentes do
ensino básico e secundário, de ambos os sexos. Após o preenchimento do
instrumento em grupos de 5, foram convidados a sugerir alterações aos termos
utilizados para melhor se adequarem à sua forma de comunicar. O objetivo foi
analisar a qualidade da tradução, detetar problemas e aperfeiçoar a linguagem
utilizada, tornando-a mais acessível aos participantes.
A recolha de
dados do grupo masculino forense ocorreu após a obtenção da autorização para
tratamento de dados pessoais da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) e
recolha de dados nos Centros Educativos (CE) por parte da Direção Geral de
Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP). A recolha de dados ocorreu em todos os
CE de Portugal. Antes de ser aplicada a bateria de testes em grupos de 3 a 6,
foi entregue a cada participante um termo de Consentimento Informado (CI). A
recolha de dados dos grupos masculino e feminino escolar ocorreu em Agrupamentos
de Escolas das regiões do Algarve, Alentejo e Grande Lisboa, após a obtenção da
autorização para tratamento de dados pessoais da CNPD, realização de inquérito
em meio escolar da Direção Geral de Educação (DGE) e respetivas Direções dos
Agrupamentos de Escolas do ensino público. Foi entregue um termo de
consentimento livre para ser assinado pelos encarregados de educação dos alunos,
autorizando a sua participação na investigação, antes de lhes ser aplicada a
bateria de testes em grupo, onde se encontrava um termo de CI para alunos. Tanto
no grupo masculino forense quanto nos grupos masculino e feminino escolar foram
excluídos os participantes que se encontravam fora do intervalo etário
pré-estabelecido (dos 12 aos 18 anos de idade) e que entregaram pelo menos um
questionário não utilizável (e.g., não preenchido, ilegível). A taxa de
participação foi de 90 % e 92 % respetivamente.
Análises estatísticas
Foram utilizados a ANOVA, Kruskal-Wallis e Qui-quadrado para comparar os grupos
em estudo quando as variáveis eram métricas, ordinais e nominais. Foram
utilizadas correlações Pearson para analisar as associações entre as variáveis
escalares e correlações de Spearman para analisar a relação entre variáveis
ordinais e escalares (Marôco, 2014).
Relativamente à magnitude de correlações foram
consideradas entre 0 e .20 fracas, entre .20 e .50 moderadas e acima de .50
fortes (Ferguson, 2009). As pontuações totais das escalas, de acordo com o que é
comum efetuar-se em psicometria (e.g., Nunnally & Bernstein, 1994), foram
utilizadas para examinar a validade convergente, divergente e de critério
(concorrente).
A consistência interna por alfa de Cronbach e Omega foi
considerada entre .60 e .69 marginalmente aceitável, acima
de .70 adequada e acima de .80 boa (Dunn, Baguley, & Brunsden, 2014; Nunnally et
al., 1994). As médias das correlações inter-item (MCII) foram consideradas
adequadas entre .15 e .50. A amplitude das correlações item-total corrigidas
(ACITC) foram consideradas adequadas acima de .30 (Dunn et
al., 2014; Urbina, 2014), sendo a correlação mínima recomendada de .20 (Nunnally
et al., 1994).
A dimensão do efeito,
eta-quadrado parcial (η2p)
foi considerada reduzida quando ≤ .05, média
entre .06 e .25, elevada entre .26 e .50 e muito elevada quando > .50. Quanto à
potência
do
teste
(π), para detetar efeitos estatisticamente significativos é desejável que seja
≥ .80. Um valor de
π = .80
é considerado adequado, sendo que, quanto mais elevado for este valor mais
elevada será a potência do teste (Marôco, 2018).
Resultados
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os
participantes do grupo masculino forense e o grupo feminino escolar
relativamente à idade (F
(2,598) = 3.79, p = .02). Os
dados revelaram também diferenças estatisticamente significativas entre o grupo
masculino forense e o grupo masculino e feminino escolar relativamente aos anos
de escolaridade completados (F
(2,598) = 273.38, p < .001; M masculino forense = 6.49,
DP = 1.42, amplitude = 4-10; M
masculino escolar = 8.98, DP = .95,
amplitude = 7-11; M feminino escolar =
8.92, DP = .95, amplitude = 7-11), ao
nível socioeconómico (NSE) dos pais (KW
= 50.47, p < .001) e à nacionalidade (χ2
= 18.76, p = .00). Os pais dos
participantes do grupo masculino forense apresentaram menor NSE, tendo este,
sido definido: baixo, médio e elevado, após o
cruzamento da profissão com o nível de escolaridade dos pais, de acordo com a
proposta de Simões (2000).
O grupo masculino forense apresentou
maior diversidade de nacionalidades relativamente aos grupos masculino e
feminino escolar.
Para serem avaliadas as propriedades psicométricas do instrumento procedeu-se à
AFC. Na Tabela 1 podem observar-se os índices de ajustamento para os grupos em
estudo do CDS. Foram obtidos os seguintes índices de ajustamento: grupo
masculino forense S-Bχ2/gl = 1.99, CFI
= .98, IFI = .98, RMSEA = .08 (.01 - .14), grupo masculino escolar S-Bχ2/gl
= 1.60, CFI = .99, IFI = .99, RMSEA = .04 (.00 - .09) e grupo feminino escolar
S-Bχ2/gl = 1.91, CFI = .98, IFI = .98, RMSEA = .06
(.00 - .11). Os valores obtidos de S-Bχ2/gl
indicam ajustamentos bons, os de IFI aceitáveis, os de CFI bons e os de RMSEA
são bons nos grupos masculino escolar e feminino escolar e adequados no grupo
masculino forense.
Tabela 1.
|
χ2 /gl |
CFI |
IFI |
RMSEA (90% C.I.) |
Masculino forense |
1.99 |
.98 |
.98 |
.08(.01-.14) |
Masculino escolar |
1.60 |
.99 |
.99 |
.04(.00-.09) |
Feminino escolar |
1.91 |
.98 |
.98 |
.06(.00-.11) |
Nota.
CDS = Conduct Disorder Screener; χ2
/gl = qui-quadrado de Satorra-Bentler/graus de liberdade; IFI = Índice de
ajustamento incremental; CFI = Índice de ajustamento comparativo; RMSEA (90% CI)
= Raiz quadrada do erro médio de aproximação (intervalo de confiança a 90%)
Na Tabela 2 são apresentadas as cargas fatoriais do modelo unifatorial nos grupos masculino forense, masculino escolar e feminino escolar, tendo sido considerandos os valores com cargas fatoriais ≥ .30. Optámos por manter o resultado .28 do item 5 (Fugi de casa), no grupo feminino escolar, por aproximar-se do valor considerado.
Tabela 2.
Itens |
Masculino forense |
Masculino escolar |
Feminino escolar |
1.Quebrei regras em casa. |
.64 |
.67 |
.56 |
2.Quebrei regras na escola. |
.60 |
.82 |
.79 |
3.Entrei em brigas/lutas. |
.73 |
.83 |
.59 |
4.Faltei às aulas. |
.59 |
.82 |
.63 |
5. Fugi de casa. |
.67 |
.41 |
.28 |
6.Meti-me em problemas por mentir ou roubar. |
.70 |
.89 |
.64 |
Nota.
CDS = Conduct Disorder Screener
Na Tabela 3 são apresentados os
valores da consistência interna pelo alfa de Cronbach e coeficiente Omega. Foi
obtido um alfa de Cronbach no grupo masculino forense de .82, no grupo masculino
escolar de .88 e no grupo feminino escolar de .75. Relativamente ao coeficiente
Omega, obteve-se no grupo masculino forense .83, no grupo masculino escolar .91
e no grupo feminino escolar .78. Assim sendo, a consistência interna apresenta
valores bons nos grupos masculino forense e masculino escolar e adequados no
grupo feminino escolar. Os resultados das médias das correlações inter-item
(MCII) revelaram geralmente valores adequados (de .15 a .50) para os grupos em
estudo, embora, no grupo feminino escolar, este, seja ligeiramente superior
(.55) ao intervalo recomendado. Na amplitude das correlações item-total
corrigidas (ACITC) foram obtidos valores geralmente adequados (acima de .30). No
grupo feminino escolar o valor obtido (.23) foi superior à correlação mínima
recomendada (.20).
Tabela 3.
|
Masculino forense |
Masculino escolar |
Feminino escolar |
Alfa |
.82 |
.88 |
.75 |
Omega |
.83 |
.91 |
.78 |
MCII |
.44 |
.55 |
.32 |
ACITC |
.57-.64 |
.38-.82 |
.23-.66 |
Nota.
CDS = Conduct Disorder Screener; Alfa = Alfa de Cronbach; Omega =
Coeficiente Omega; MCII = Média das Correlações Inter-Item; ACITC = Amplitude
das Correlações Item-Total Corrigidas
Na Tabela 4 são apresentadas a validade convergente, a validade divergente e a validade de critério (concorrente) do CDS. A validade convergente foi testada com o YPI-TRI-S, DTDD, SUPPS, AHSRD e PCS-20. A validade divergente foi testada com a EMAE e a BSCS. A validade de critério (concorrente) foi testada com os sintomas de PC, ICS e Idade do primeiro problema com a Lei.
Tabela 4.
|
Masculino forense |
Masculino escolar |
Feminino escolar |
YPI-TRI-S Total
|
.60** |
.82** |
.59** |
YPI-TRI-S O/D/M
|
.43**/.60**/.59** |
.75**/.78**/.80** |
.55**/.53*/.53** |
DTDD Total
|
.70** |
.80** |
.58** |
DTDD M/N/P
|
.61**/.57**/.52** |
.70**/.54**/.82** |
.50**/.40**/55** |
SUPPS-P Total
|
.57** |
.77** |
.56** |
SUPPS-P Un/Up
|
.59**/.65** |
.75**/.78** |
.46**/.47** |
SUPPS-P Fp/Fpr/Bs
|
-.19*/.21*/.26** |
.45**/66**/.59** |
.33**/.47**/.41** |
AHSRD Total
|
.76** |
.85** |
.65** |
AHSRD Nv/V
|
.69**/.75** |
.87**/.72** |
.63**/.48** |
PCS-20 Total
|
.67** |
.76** |
.52** |
PCS-20 Rr/Ra
|
.34**/.65** |
.41**/.79** |
.34**/.55** |
PCS-20 Pr/Pa
|
.56**/.73** |
.59**/.79** |
.31**/.52** |
EMAE Total
|
-.68** |
-.72** |
-.58** |
BSCS Total
|
-.57** |
-.76** |
-.53** |
Sintomas PC
|
.75** |
.80** |
.57** |
ICS |
.47** |
.87** |
.70** |
Idade 1º prob Lei
|
-.29** |
-.33ns |
-.24ns |
Nota.
CDS = Conduct Disorder Screener; YPI-TRI-S = Youth Psychopathic Traits
Inventory-Triarchic-Short; O = Ousadia; D = Desinibição; M = Malvadez; DTDD
= Dark Triad Dirty Dozen; M = Maquiavelismo; N = Narcisismo; P =
Psicopatia; SUPPS-P = Short Version UPPS-P Impulsive Behavior Scale; Un =
Urgência negativa; Up = Urgência positiva; Fp = Falta de perseverança; Fpr =
Falta de Premeditação; Bs = Busca de Sensações; BSCS = Brief Self-Control
Scale; AHSRD = Add Health Self-Report Delinquency; Nv = Não violento;
V = Violento; PCS-20 = Brief Peer Conflict Scale; Rr = Reativa
relacional; Ra = Reativa aberta;Pr = Proativa relacional; Pa = Proativa aberta;
EMAE = Escala de Motivação para a Aprendizagem Escolar; Sintomas PC = Sintomas
de Perturbação do Comportamento; ICS = Index of Crime Severity; Idade 1º
prob Lei = Idade do 1º problema com a Lei; * p≤.05; ** p≤.01;
ns = não significativa
Na Tabela 5 é apresentada a
validade de grupos conhecidos onde a comparação entre os grupos em estudo
revelou que, o grupo masculino forense obteve pontuações mais elevadas e
estatisticamente significativas do que os grupos masculino e feminino escolar e
que, o grupo masculino escolar, obteve pontuações mais elevadas e
estatisticamente significativas do que o grupo feminino escolar e uma dimensão do efeito muito elevada no CDS
Total (F
(2,598) = 520.38, p < .001; η2p
=
.64; π = 1;
M masculino forense = 16.73,
DP = 2.94;
M masculino escolar = 9.39, DP
= 2.73; M
feminino escolar = 8.26, DP = 1.79).
Com recurso ao teste post-hoc Games-Howell, os dados revelaram diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos masculino forense e masculino
escolar (p < .001), masculino escolar
e feminino escolar (p < .001) e
masculino forense e feminino escolar (p
< .001).
Tabela 5.
|
Masculino forense
M(DP) |
Masculino escolar
M(DP) |
Feminino escolar
M(DP) |
F
(2,598) |
p |
η2p |
CDS |
16.73(2.94) |
9.39(2.73) |
8.26(1.79) |
520.38 |
< .001 |
.64 |
Nota.
CDS = Conduct
Disorder Screener; M =
Média; DP = Desvio-padrão; F =
estatística F da ANOVA; p =
nível de significância; η2p
= eta-quadrado
parcial
Discussão
Considerando que
a PC é uma perturbação cujo início é cada vez mais precoce, pode potenciar
comportamentos de delinquência na adolescência e prolongar-se pela idade adulta
com elevados custos sociais e económicos (Hutchings et al., 2007)
este instrumento breve de triagem da PC em adolescentes pode ser fundamental
como estratégia de identificação e encaminhamento dos jovens para intervenções
psicoterapêuticas e psicossociais adequadas, diminuindo desta forma o impacto da
PC no indivíduo, respetivas famílias e sociedade. O objetivo do presente estudo
foi a validação do CDS numa amostra de adolescentes de ambos os sexos, em
contexto forense e escolar, onde foram colocadas as hipóteses de que, este, iria
demonstrar: 1) Estrutura fatorial unidimensional; 2) Boa consistência interna
medida por alfa de Cronbach e coeficiente Omega; 3) Adequada validade
convergente com medidas de avaliação de traços psicopáticos, traços de tríade
negra, impulsividade, delinquência juvenil, violência entre pares e validade
divergente com medidas de motivação para a aprendizagem escolar e autocontrolo;
4) Adequada validade de critério (concorrente) com sintomas de perturbação do
comportamento, índice de gravidade dos crimes, idade do primeiro problema com a
lei; 5) Adequada validade de grupos-conhecidos.
Considerando os resultados obtidos comprovou-se uma estrutura fatorial
unidimensional com índices de ajustamento de adequados a bons (Marôco, 2014;
West et al., 2012), tal como no instrumento original proposto por Lewinsohn et
al. (2000). Assim sendo, a nossa primeira hipótese foi confirmada.
A análise da consistência interna (fiabilidade), estimada pelo alfa de Cronbach
e coeficiente Omega revelou valores de adequados (acima de .70) no grupo
feminino escolar, a bons (acima de .80), nos grupos masculino forense e escolar
(Dunn et al., 2014; Nunnally et al., 1994). A consistência interna medida por
alfa de Cronbach no instrumento original foi de .78 no sexo masculino e de .72
no sexo feminino. No presente estudo foram obtidos resultados superiores aos de
Lewinsohn et al. (2000). A utilização do coeficiente Omega é recomendada porque
o alfa de Cronbach tende a subestimar a consistência interna (Dunn et al.,
2014), porém, optámos por apresentar o valor de alfa por ser este o coeficiente
mais utilizado e o referido no estudo original.
Os resultados das médias das correlações inter-item (MCII) revelaram geralmente
valores adequados (de .15 a .50) para os grupos em estudo, embora no grupo
feminino escolar este seja ligeiramente superior (.55) ao intervalo recomendado.
Na amplitude das correlações item-total corrigidas (ACITC) foram obtidos valores
geralmente adequados (acima de .30) (Dunn et al., 2014; Urbina, 2014). Porém, no
grupo feminino escolar, embora o valor obtido (.23) seja inferior, é superior à
correlação mínima recomendada de .20 (Nunnally et al., 1994). Assim sendo, a
segunda hipótese por nós colocada foi igualmente confirmada.
Na validade convergente com o YPY-TRI-S Total, DTDD Total, SUPPS-P Total, AHSRD
Total e PCS-20 Total as correlações revelaram-se positivas, fortes e
estatisticamente significativas. Os resultados obtidos, tal como o esperado,
corroboram o referido na revisão de literatura efetuada (e.g., López-Romero,
Romero, & Andershed, 2015). A PC está associada a
comportamentos externalizantes (e,g., agressividade, impulsividade,
antissociais, delinquentes) sendo mais comuns no sexo masculino (e.g., APA,
2014; Pechorro et al., 2018a; Pechorro et al., 2018b; Rijo et al., 2017). A
PC pode potenciar comportamentos delinquentes nos adolescentes e prolongar-se
pela idade adulta (Hutchings et al., 2007). Alguns autores (e.g., Sevecke &
Kosson, 2010) referem a existência de uma ligação retrospetiva entre psicopatia
no adulto e PC na infância, início precoce de comportamentos antissociais,
violência crónica, delitos diversificados e impulsividade. Pode ser um precursor
da PAP (APA, 2014) e, quando tal ocorre, pode verificar-se a prática de
atividade criminal severa e crónica na idade adulta (Loeber & Farrington, 1998).
No DSM-5 está incluído um especificador na PC de traços de insensibilidade
emocional (e.g., falta de remorso ou culpa, indiferença-falta de empatia),
caraterísticos da psicopatia (Frick & Moffitt, 2010; Scheepers, Buitelaar, &
Matthys, 2011). É referido por vários autores que, estes traços, podem estar
associados à maior estabilidade dos comportamentos antissociais, comportamentos
delinquentes graves e violentos, início precoce de atividades criminais,
detenções e condenações precoces (Pechorro, Gonçalves, Marôco, Gama, Neves, & Nunes 2014; Van Baardewijk,
Vermeiren, Stegge, & Doreleijers, 2011).
A validade divergente (Kaplan & Saccuzzo, 2013) com medidas de motivação para a
aprendizagem escolar (EMAE) e autocontrolo (BSCS) revelou correlações negativas,
fortes e estatisticamente significativas, como o esperado. Considerando o
sentido (negativo) e a intensidade (forte) da relação linear entre o CDS Total e
as medidas EMAE e BSCS (e.g., Marôco, 2018), os dados obtidos são igualmente
corroborados por autores diversos
(e.g., Biederman et al., 2008; Farrington, 2005; Jesus, 2008; Pechorro et al., 2019b). A falta de motivação para aprendizagem
escolar pode ter implicações ao nível dos comportamentos, verificando-se
indisciplina dentro da sala de aula (Jesus, 2008). Nos casos em que ocorre PC, o
desempenho ao longo do percurso escolar pode ficar comprometido, estando com
frequência abaixo do nível esperado. Podem ocorrer suspensões ou mesmo expulsão,
dificuldades de adaptação ao meio escolar (APA, 2014; Rijo et al., 2017) e
abandono prematuro do mesmo (Biederman et al., 2008; Rijo et al., 2017). A
terceira hipótese foi igualmente confirmada.
Considerando a validade de critério (concorrente) com sintomas de PC e ICS, os
resultados obtidos revelaram no grupo masculino forense correlações positivas,
de moderadas a fortes e estatisticamente significativas. Nos grupos masculino e
feminino escolar, foram verificadas correlações positivas, fortes e
estatisticamente significativas. Relativamente à idade do 1º problema com a Lei
observaram-se correlações negativas, moderadas e estatisticamente significativas
no grupo forense e correlações não significativas nos grupos masculino e
feminino escolar. Os dados obtidos estão em linha com outros estudos
anteriormente efetuados (e.g.,
Pechorro, Poiares, Marôco, & Vieira,
2012). Quando a PC ocorre precocemente (APA, 2014; Biederman et al., 2008; Frick
et al., 2009; Simões, 2007), afetando geralmente os indivíduos do sexo
masculino, apresentam estes um risco aumentado de comportamentos antissociais
(APA, 2014; Biederman et al., 2008; Frick et al., 2009; Rijo et al., 2017) e de
desenvolvimento de perturbações diversas (e.g., ansiedade, humor, controlo dos
impulsos, aprendizagem) (APA, 2014; Rijo et al., 2017). Verifica-se com
frequência agressividade física dirigida aos outros, relações perturbadas com os
pares (APA, 2014; Burke, Pardini, & Loeber, 2008). Muitas crianças com este
subtipo de PC podem apresentar maior probabilidade de desenvolver PC severa e
persistente, prolongando-se pela idade adulta (APA, 2014). A minoria de jovens
com PC que apresentam um padrão estável de respostas com emoções prossociais
limitadas (e.g., ausência de emoções, procura de excitação, insensibilidade à
punição, violação das normas sociais, comportamentos violentos), a PC pode ter
ocorrido precocemente e ser classificada como severa e persistente (APA, 2014;
Rijo et al., 2017; Simões, 2007). Os jovens com estas características manipulam
o ambiente, podendo tornar-se na principal forma de interação social para
obterem gratificação imediata ou evitar as exigências do meio (Pacheco & Hutz,
2009), recorrendo frequentemente a comportamentos violentos (Rijo et al., 2017).
Pelo anteriormente referido, a quarta hipótese do presente estudo foi
confirmada.
Relativamente à validade de grupos-conhecidos, a comparação entre os grupos
masculino forense e masculino escolar revelou que, os participantes do grupo
forense, obtiveram pontuações mais elevadas no CDS Total, tal como o esperado,
uma vez que, a PC é um fator de risco para a atividade criminal (e.g., Biederman et
al., 2008; Frick et al., 2009). Os resultados obtidos revelaram também que,
os
participantes do grupo masculino escolar obtiveram pontuações mais elevadas no
CDS Total do que o grupo feminino escolar, corroborando o referido na revisão de literatura previamente efetuada
(e.g., Loeber et al., 1998). Revelaram ainda que, os participantes do grupo
masculino forense obtiveram pontuações mais elevadas relativamente ao grupo
feminino escolar corroborando igualmente o referido pelos autores consultados
(e.g., Biederman et al., 2008; Frick et al., 2009). Há diferenças entre os
indivíduos do sexo masculino e feminino que apresentam PC. Nos rapazes ocorrem
frequentemente lutas, furtos, roubos, vandalismo e indisciplina em meio escolar.
Nas raparigas verificam-se fugas, mentiras, uso de substâncias psicoativas,
prostituição e absentismo escolar (APA, 2014). Já anteriormente Kratzer e
Hodgins (1997) referiram que 64% dos rapazes e 17% das raparigas com PC
apresentaram cadastro na idade adulta.
Os dados revelaram também uma dimensão do efeito (.64) muito elevada e uma
potência do teste (1) igualmente muito elevada (Marôco, 2018).
As diferenças estatisticamente
significativas entre o sexo masculino e o feminino são igualmente referidas
pelos autores do estudo original (Lewinsohn et al., 2000).
Assim sendo foi confirmada a quinta hipótese por nós colocada.
Conclusões
Concluímos que a versão
portuguesa do CDS é um instrumento de autorrelato fiável e válido para a
avaliação da PC nos adolescentes, em contexto forense e escolar. Considerando
que, esta, é uma perturbação com relevância clínica, educacional e forense, a
versão portuguesa deste instrumento pode contribuir para preencher uma lacuna na
avaliação rápida, especifica e adequada da PC nesta fase do desenvolvimento do
indivíduo.
Embora a investigação empírica tenha demonstrado que a delinquência juvenil está
mais concentrada nos jovens do sexo masculino (e.g., Hawkins, Laub, & Lauritsen,
1998),
consideramos que, a ausência de um grupo feminino forense é uma limitação deste
estudo. O número de jovens do sexo feminino, neste contexto, tem vindo a
aumentar nos últimos anos a nível nacional e internacional, como referem
diversos autores (e.g., Duarte, 2012;
Resko, Reddock, Ranney,
Quyen, Zimmerman, Cunningham, & Walton,
2016).
Sendo esta uma medida breve devem
considerar-se vantagens diversas para a investigação e prática clínica tais
como: quando são utilizadas outras medidas de avaliação; o tempo de resposta dos
participantes é menor, logo, tem impacto na motivação e na fadiga para
determinadas populações (e.g., crianças, adolescentes); diminui a probabilidade
de ocorrerem itens omissos (Rammstedt et al., 2014). Assim sendo, esperamos que
este trabalho estimule futuras investigações, considerando estes factos e também
a validação cruzada com outras amostras (e.g., clínica), para verificar se as
propriedades psicométricas do CDS se mantêm adequadas.
Referências
Achenbach, T. M, & Edelbrock, C. S. (1987). Manual for the Youth Self Report
and Profile. University of Vermont, Department of Psychiatry.
Achenbach, T. M., Rescorla, L. A., Dias, P., Ramalho, V., Lima, V. S.,
Machado, B. C., & Gonçalves,
M. (2014). Manual do sistema de avaliação empiricamente validado (ASEBA) para o
período pré-escolar e escolar: Um sistema integrado de avaliação com múltiplos
informadores. Psiquilibrios Edições.
American Psychiatric Association [APA].
(2014).
Diagnostic and statistical manual
of mental disorder
(5ª ed.)
(DSM-5) (tradução portuguesa).
Climepsi Editores.
Bentler, P., & Wu, E. (2015).
Supplement to EQS 6.3 for Windows user’s
guide. Multivariate Software, Inc.
Biederman, J.,
Petty, C., Hughes, S., Mick, E., Monuteaux, M., & Faraone, S. (2008). The long-term longitudinal course of
oppositional defiant disorder and conduct disorder in ADHD boys: Findings from a
controlled 10-year prospective longitudinal follow-up study.
Psychological Medicine, 38(7), 1027-1036.
https://doi.org/10.1017/S0033291707002668
Borrajo, R.,
Gámex-Guadix, M., Pereda, N., & Calvete, E. (2015). The development and
validation of the cyber dating abuse questionnaire among young couples.
Computers in Human Behavior, 48, 358-365.
https://doi.org/10.1016/j.chb.2015.01.063
Braga, T., Pechorro,
P., Jesus, S., & Gonçalves, R. (2018). Autoestima, narcisismo e dimensões de
delinquência juvenil: Que relação? Análise Psicológica, 36(2), 145-157.
https://doi.org/10.14417/ap.1361
Burke, J. D., Pardini,
D. A., & Loeber, R. (2008). Reciprocal relationships between parenting behavior
and disruptive psychopathology from childhood through adolescence. Journal of
Abnormal Child Psychology, 36(5), 679-692.
https://doi.org/10.1007/s10802-008-9219-7
Byrne, B. (2006).
Structural equation modeling with EQS: Basic concepts, applications, and
programming. Lawrence Erlbaum Associates.
Dandreaux, D. M., & Frick, P. J. (2009). Developmental
pathways to conduct problems: A further test of the childhood and
adolescent -onset distinction.
Journal of Abnormal Child Psychology, 37(3), 375-385.
https://doi.org/10.1007/s10802008-9261-5
Duarte, V. (2012).
Discursos e percursos na delinquência juvenil feminina.
Edições Húmus, Lda.
Dunn, T., Baguley, T., & Brunsden, V. (2014). From
alpha to omega: A practical solution to the pervasive problem of internal
consistency estimation. British Journal of
Psychology, 105(3), 399-412.
https://doi.org/10.1111/bjop.12046
Farrington, D. P. (2005). Childhood origins of
antisocial behavior.
Clinical Psychology & Psychotherapy, 12(3), 177-190.
https://doi.org/10.1002/cpp.448
Ferguson, C. J. (2009).
An effect size
primer: A guide for clinicians and researchers.
Professional Psychology: Research and Practice, 40(5), 532-538.
https://doi.org/10.1037/a0015808
Frick, P. J., & Moffitt, T. E. (2010). A proposal to
the DSM-5 childhood disorders and the ADHD and disruptive behavior disorders
work groups to include a specifier to the diagnosis of conduct disorder based on
the presence of callous-unemotional traits. American Psychiatric
Association.
Frick, P., & Viding, E. (2009). Antissocial behaviour
from a developmental psychopathology perspective.
Development and Psychopathology, 21(4),
1111-1131.
https://doi.org/10.1017/S0954579409990071
Gudjonsson, G. H., Sigurdsson, J. F., Sigfusdottir, I.
D., & Young, S. (2014). A national epidemiological study of offending and its
relationship with ADHD symptoms and associated risk factors. Journal of
attention Disorders, 18(1), 3-13.
https://doi.org/10.1177/1087054712437584
Hambleton, R. K., Merenda, P. F.,
& Spielberger, C. D. (2005). Adapting
educational and psychological tests for cross-cultural assessment.
Lawrence Erlbaum Associates.
Hawkins, D., Laub, J.,
& Lauritsen, J. (1998). Race, ethnicity, and serious juvenile offending. In R.
Loeber & D. Farrington (Eds.), Serious and
violent juvenile offenders: Risk factors and successful interventions (pp.
30-46). Sage Publications.
Hutchings, J., Bywater, T., &
Daley, D. (2007). Early prevention of conduct disorder: How and why did the
North West Wales Sure Start study work?
Journal of Children’s Services, 2(2), 4-14.
https://doi.org/10.1108/17466660200700012
Imaginário, S., Jesus, S. N.,
Morais, F., Fernandes, C., Santos, R., Santos, J., & Azevedo, I. (2014).
Motivação para a aprendizagem escolar: Adaptação de um instrumento de avaliação
para o contexto português. Revista
Lusófona de Educação, 27, 91-105.
Jesus, S. N. (2008). Estratégias
para motivar os alunos. Educação, 31(1),
21-29.
Jonason, P. K., &
Webster, G. D. (2010).
The Dirty Dozen: A concise measure of the dark
triad.
Psychological Assessment, 22(2), 420-432.
https://doi.org/10.1037/a0019265
Kaplan, R. M., & Saccuzzo, D. P. (2013).
Psychological testing: Principles, applications, & issues
(8th ed.). Wadsworth, Cengage
Learning.
Lang, J. M., & Connell, C. M. (2017).
Development and validation of a brief trauma screening measure for children:
The Child Trauma Screen. Psychological Trauma: Theory, Research,
Practice, and Policy, 9(3), 390-398.
https://doi.org/10.1037/tra0000235
Lewinsohn, P. M., Rohde, P., & Farrington, D. P. (2000). The OADP-CDS: A brief screener for adolescent condut disorder. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 39(7), 888-895. https://doi.org/10.1097/00004583-200007000-00018
Loeber, R., & Farrington, D. P. (1998). Serious and violent juvenile offenders: Risk factors and successful interventions. Sage Publications.
López-Romero, L., Romero, E., & Andershed, H. (2015).
Conduct problems in childhood and adolescence: Developmental trajectories,
predictors and outcomes in a six-year follow up. Child Psychiatry and Human
Development, 46(5), 762-773.
https://doi.org/10.1007/s10578-014-0518-7
Mann, M.
J., Kristjansson, A. L., Smith, M. L., & Sigfusdottir, I. D. (2016). The
influence of negative life events and problem behavior on grades in early
adolescence: Pathways to academic risk in the middle grades.
Research in
Middle Level Education, 39(10), 1-13.
https://doi.org/10.1080/19404476.2016.1244402
Marôco, J. (2014).
Análise de
equações estruturais: Fundamentos teóricos, software & aplicações.
ReportNumber, Lda.
Marôco, J. (2018).
Análise estatística com o SPSS Statistics (7ª ed.).
ReportNumber, Lda.
Nunnally, J., &
Bernstein, I. (1994). Psychometric theory
(3rd ed.).
New York, NY: McGraw-Hill.
Ogilvie, C.
A., Newman, E., Todd, L., & Peck, D. (2014). Attachment &
violent offending: A meta-analysis.
Aggression and Violent Behavior, 19(4), 322-339.
https://doi.org/10.1016/j.avb.2014.04.007
Pacheco, J. T. B., & Hutz, C. S. (2009). Variáveis familiares preditoras do comportamento anti-social em adolescentes autores de atos infracionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 25(2), 213-219. https://doi.org/10.1590/S0102-37722009000200009
Palma, V. H., Pechorro, P., Nunes, C., & Jesus, S. N. (2020). Validação preliminar da versão
portuguesa da Child Trauma Screen em
adolescentes. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación - e
Avaliação Psicológica, 56(3), 5-19.
https://doi.org/10.21865/RIDEP56.3.01
Pechorro, P., Gonçalves, R., Marôco, J., Gama, A., Neves, S., & Nunes, C.
(2014).
Juvenile delinquency and psychopathic traits: An
empirical study with portuguese adolescents. International Journal of
Offender Therapy and Comparative Criminology, 58(2), 174-189.
https://doi.org/10.1177/0306624X12465584
Pechorro, P., Poiares, C., Marôco, J., & Vieira, R. X. (2012). Traços psicopáticos e perturbação do comportamento em adolescentes institucionalizados. Psicologia, Saúde & Doenças, 13(2), 399-409.
Pechorro, P., Pontes, C.,
DeLisi, M., Alberto, I., & Simões, M. R. (2018a). Escala breve de autocontrolo: Validação e
invariância numa amostra de jovens portugueses.
Revista Iberoamericana de
Diagnóstico y Evaluación – e Avaliação Psicológica.
Pechorro, P., Russel, J.
D., Nunes, L. A., & Nunes, C. (2018b). The Brief Peer Conflict Scale (PCS-20):
Psychometric properties among a sample of incarcerated male juvenile offenders.
International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, 62(8),
2414-2429.
https://doi.org/10.1177/0306624X17719299
Pechorro, P., DeLisi, M.,
Alberto, I., Ray, J. V., & Simões, M. R., (2019a). The Triarchic Model of
Psychopathy among incarcerated male youths: A psychometric study. In M. DeLisi
(Edit.), Routledge international handbook of psychopathy and crime (pp.
265-275).
Routledge.
Pechorro, P., Moreira, K.,
Basto-Pereira, M., Oliveira, J. P., & Ray, J. V. (2019b). The self-report
delinquency scale from the national longitudinal study of adolescent to adult
health among at-risk for delinquency youths. Violence and Victims, 34(1),
120-135.
https://doi.org/10.1891/0886-6708.34.1.120
Pechorro, P., Jonason, P.
K., Raposo, V., & Marôco, J. (2019c). Dirty Dozen: A concise measure of Dark
Triad traits among at-risk youths. Current Psychology.
https://doi.org/10.1007/s12144-019-00288-9
Pechorro, P., Revilla, R., Palma, V. H., Nunes, C., Martins, C., & Cyders,
M. A. (2021). Examination of
the SUPPS-P Impulsive Behavior Scale among male and female Portuguese youth:
Psychometrics and invariance.
Children, 8, 283.
https://doi.org/10.3390/children8040283
Kratzer, L., & Hodgins, S.
(1997). Adult outcomes of child conduct problems: A cohort study.
Journal of
Abnormal Child Psychology, 25(1), 65-81.
https://doi.org/10.1023/A:1025711525255
Rammstedt, B., & Beierlein, C. (2014). Can’t we make it any shorter? The
limits of personality assessment and ways to overcome them.
Journal of Individual Differences, 35,
212-220.
https://doi.org/10.1027/1614-0001/a000141
Resko, S. M., Reddock, E. C., Ranney, M. L., Quyen, E. N., Zimmerman, M. A., Cunningham, R. M., & Walton, M. A. (2016). Reasons for fighting among violent female adolescents: A qualitative investigation from an urban, midwestern community. Social Work in Public Health, 31(3), 99-112. https://doi.org/10.1080/19371918.2015.1087914
Rijo, D., Brazão, N., Silva, D.
R., & Vagos, P. (2017).
Jovens agressores. Pactor.
Rohde, P., Lewinsohn, P. M., & Seeley, J. R. (1991).
Comorbidity of unipolar depression: II. Comorbidity with other mental disorders
in adolescents and adults. Journal of Abnormal Psychology, 100(2),
214-222.
https://doi.org/10.1037/0021-843X.100.2.205
Rohde, P., Lewinsohn, P. M., & Seeley, J. R. (1997). Comparability of telephone and face-to-face interviews assessing axis I and II disorders. American Journal of Psychiatry, 154(11),1593-1598. https://doi.org/10.1176/ajp.154.11.1593
Russell, J. D. (2014).
The Structure of Child and Adolescent Aggression: Confirmatory factor
analysis of a Brief Peer Conflict Scale. Thesis Master of Science in Applied
Developmental Psychology. University of New Orleans, New Orleans, LA. Retrieved
from
http://scholarworks.uno.edu/td/1892
Scheepers, F., Buitelaar, J., & Matthys, W. (2011). Conduct disorder and the
specifier callous and unemotional traits in the DSM-5. European Child &
Adolescent Psychiatry, 20(2), 89-93.
https://doi.org/10.1007/s00787-010-0149-x
Sevecke, K., & Kosson, D. (2010). Relationships of child and adolescent
psychopathy to other forms of psychopathology. In R. Salekin, & D.
Lynam (Eds.), Handbook of child and adolescent psychopathy (pp. 284-314).
The Guilford Press.
Simões, C. (2007).
Comportamentos de risco na adolescência. Fundação Calouste Gulbenkian.
Simões, M. R. (2000).
Investigações no âmbito da Aferição Nacional do Teste das Matrizes Progressivas
Coloridas de Raven (MPCR).
Fundação Calouste Gulbenkian.
Skilling, T., Quinsey, V., &
Craig, W. (2001). Evidence of a taxon underlying serious antisocial behavior in
boys. Criminal Justice and Behavior, 28, 450-470.
https://doi.org/10.1177/00938548010280040
Tangney, J., Baumeister, R., &
Boone, A. (2004). High self-control predicts good adjustment, less pathology,
better grades, and interpersonal success. Journal of Personality, 72(2), 271-324.
https://doi.org/10.1111/j.0022-3506.2004.00263.x
Udry, J. (2003).
The national longitudinal study of Adolescent Health (Add Health), waves I and
II, 1994–1996; wave III, 2001–2002. Carolina Population Center, University
of North Carolina at Chapel Hill.
Urbina, S. (2014). Essentials of psychological testing (2nd
ed.).
John Wiley & Sons.
Van Baardewijk, Y., Vermeiren, R., Stegge, H., &
Doreleijers, T.
(2011). Self-reported psychopathic traits in children: Their stability and
concurrent and prospective association with conduct problems and aggression.
Journal of Psychopathology and Behavioral Assessment, 33(2), 236-245.
https://doi.org/10.1007/s10862-010-9215-4
West, S., Taylor,
A., & Wu, W. (2012). Model fit and model selection in structural equation
modeling. In R. Hoyle (Ed.), Handbook of
structural equation modeling (pp. 209-231). The Guilford Press.
Wolfgang, M. E., Figlio, R., Tracy, P., & Singer, S. I. (1985). The national survey of crime severity. U. S. Government Printing
Office.
Young, S., Misch, P., Collins, P., & Gudjonsson, G. (2011). Predictors of
institutional behavioural disturbance and offending in the community among young
offenders. The Journal of Forensic Psychiatry & Psychology, 22(1), 72-86.
https://doi.org/10.1080/14789949.2010.49599