Recebido: 30-08-2021 | Aprovado: 25-11-2021
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Logos University International, USA (deabreu.fabiano@gmail.com)
Como referenciar este artigo:
Agrela Rodrigues, F. A. (2022). Cannabis sativa e sua influência na capacidade de inteligência de seus usuários.
RevistaMultidisciplinar.com, 4(1), 15-25.
https://doi.org/10.23882/rmd.22073
Resumo: Popularmente conhecida como maconha ou marijuana, Cannabis sativa apresenta compostos que podem ser utilizados como terapêuticos e substâncias que afetam o sistema nervoso e, devido a tal fato, é classificada como uma droga ilícita. A principal substância psicoativa da cannabis demonstra enorme influência no cérebro, o THC atinge o sistema nervoso central, reconhece receptores no local, se liga e essa ação é responsável por seus efeitos. Assim, o objetivo do presente estudo é compreender se indivíduos que fazem o uso recreativo da Cannabis sativa podem ser afetados na diminuição da inteligência e, portanto, parte-se de uma revisão de literatura, realizada por meio das seguintes bases de dados: SciELO, PubMed PsycINFO e Science Direct. Com o uso crônico da substância é possível desenvolver alguns efeitos maléficos na atenção, na função cognitiva, memó-ria operacional e tais efeitos em conjunto dificultam o aprendizado do indivíduo.
Palavras-chave: Cannabis Sativa, Maconha, Inteligência, Memória, Sistema Nervoso.
Abstract: Popularly known as marijuana, Cannabis sativa presents compounds that can be used as therapeu-tics and substances that affect the nervous system and, due to this fact, it is classified as an illegal drug. The main psychoactive substance in cannabis shows enormous influence on the brain, THC reaches the central nervous system, recognizes receptors in the area and binds, and this action is responsible for its effects. Thus, the aim of this study is to understand whether individuals who make recreational use of Cannabis sativa can be affected by decreased intelligence and, therefore, it starts from a literature review, carried out through the following databases: SciELO, PubMed PsycINFO and Science Direct. The chronic use of the substance is possible to develop some harmful effects on learning, attention, cognitive function and working memory and such effects together hinder the individual's learning.
Keywords: Cannabis sativa, Marijuana, Intelligence, Memory, Nervous System.
1.
INTRODUÇÃO
1.1 Planta
Cannabis sativa
Popularmente conhecida como maconha ou marijuana, Cannabis sativa apresenta compostos considerados terapêuticos e substâncias que afetam o sistema nervoso e, devido a esse fato, é classificada como uma droga ilícita. Deriva de uma planta que apresenta mais de 400 substâncias químicas, das quais, algumas delas têm efeitos medicinais como o CBD e outras, psicoativas como THC (ElSohly et al., 2017). Sua principal maneira de administração é por meio da inalação (fumada), método que leva a um efeito rápido no organismo, estimando-se que, em cerca de meia hora, atinja os níveis máxi-mos no sangue. Outra maneira de administração é ingerindo-a (Volkow et al., 2014).
Seu consumo remonta a partir do terceiro milênio a.C. e, atualmente é utilizada para recreação ou fins terapêuticos (ElSohly et al., 2017) e em 2723 a.C os chineses utilizavam-na em sua farmacopéia. Do norte da China Central imigrou para Índia, Oriente Médio e chegou à Europa no final do século XVIII e início do século XIX. Com a colo-nização africana houve trocas de escravos que faziam uso da maconha até ser introduzi-da no Brasil. Nas grandes navegações, confeccionava-se lonas, velas e cordas a partir das fibras da maconha. Até ao século XX, a maconha era utilizada como planta medici-nal e suas fibras no mercado textil, e até aos anos 40 ela fazia parte da farmacopéia oficial de diversos países, mas, a partir desse século e dos estudos de inúmeros cientistas, o seu uso foi desconsiderado e até proibido devido aos efeitos colaterais e narcodependência.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de quatro por cento da população mundial (162 milhões de pessoas) já utilizou ao menos uma vez a cannabis e cerca de 0,6 por cento (22,5 milhões) fazem o uso diariamente. No Brasil, segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, na Cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes a cada 100 indivíduos, 9 já a utilizaram uma vez, sendo a maioria, homens e na faixa de 18 a 24 anos de idade (Dhadwal et al., 2018).
As substâncias químicas
encontradas na Cannabis relevam potenciais terapêuticos. (Corrêa, et. al.,
2020). Para usos terapêuticos, na década de 1990, houve a descoberta do primeiro
mediador endógeno, denominado anandamida e o lançamento do primeiro medicamento
atuante no sistema de endocanabinoides, denominado rimonabanto, que tinha como
finalidade reduzir o apetite e tratar a obesidade. (Cohen, Weizman, e Weinstein,
2019). Em 2019, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária regulamentou os requisitos para medicamentos com Cannabis
através da Resolução RDC no 327/19. Atualmente, a aplicação clínica do sistema
de canabinoides possui maior conhecimento e atua na redução dos sintomas motores
da Doença de Parkinson, na dor neuropática ou inflamatória, dentre outras.
A FDA nos EUA aprovou tratamento coadjuvante à base de canabidiol para epilepsia
e Parkinson, o que também pode ser liberado no Brasil, mediante prescrição
médica, quando os outros medicamentos não se mostram mais eficazes,
principalmente nos casos da epilepsia e, apesar de não serem fabricados no país.
Os efeitos imediatos da
cannabis são: relaxamento, leve euforia, diminuição passageira na memória de
curto prazo, boca seca, habilidades motoras levemente debilitadas e vermelhidão
dos olhos. Os efeitos neurológicos de curto prazo mais comuns são: aumento da
frequência cardíaca e apetite, diminuição da memória de curto prazo, coordenação
psicomotora e da concentração. Dentre os efeitos a longo prazo são: danos
respiratórios quando inalada (Volkow et. al., 2014).
1.2
Tetra-hidrocanabinol (THC)
Dentre as mais de 400 substâncias, a principal substância psicoativa da cannabis que demonstra enorme influência no cérebro é o THC (Figura 1) que, ao atingir o sistema nervoso central, reconhece receptores no local e se liga, sendo essa ação a responsável por seus efeitos como por exemplo, na memória, na falta de coordenação, alucinógenos dentre outros (Dinis-Oliveira et al., 2016). Ao final do século XX, na década de 90, a revelação do Sistema Endocanabinoide (SECB) trouxe novas perspectiva para o estudo da substância em aplicações terapêuticas e discussão sobre a licitude ou não de seu uso. Tal sistema, pode resumidamente ser explicado como um sistema neuromodulatório onipresente que objetiva a homeostase corporal, integrando e modulando várias funções como rítmo circadiano, apetite, digestão, imunidade, plasticidade, dor, metabolismo, proteção neural, dentre outros.
Figura 1 – Composição química do THC
Quando
absorvido na corrente sanguínea, as
concentrações de THC diminuem rapidamente devido ao metabolismo do fígado,
fazendo com que a depuração plasmática
atinja 950 mL/min. A substância permanece em maior parte no tecido adiposo
(devido à sua grande lipofília) obtendo seu
pico de concentração em 4-5 dias. Após isso, é liberado lentamente atingindo as
demais áreas do cérebro
(Dinis-Oliveira et al., 2016).
No cérebro, é distribuído de diversas
maneiras, atingindo altos níveis de concentração nas áreas neocortical, límbica,
sensorial e motora.
No fígado é metabolizado
CYP 450 essencialmente a 11-hidróxi-THC (potencialmente mais potente que o THC),
porém o 11-hidroxi-THC pode ainda ser substrato do álcool
desidrogenase. Entre 10~13 dias, 25%
dos metabolitos são excretados por meio da urina sob a forma de éster
de ácido glucurónico. A
maioria da excreção é liberada no intestino através do fígado, podendo ser
reabsorvido (circulação entero-hepática), aumentando sua ação. Também pode ser
eliminado por meio das fezes verificando a predominância de maneira não
conjugada. O processo de eliminação total pode demorar até 30 dias. Graças à
sequestração e à existência de
metabolitos ativos, é difícil
compreender a relação entre a concentração de THC no plasma ou urina e a
intoxicação (Bindesri et al., 2020).
Substâncias análogas ao Δ9 -THC, quimicamente modificadas permitiram o
reconhecimento dos receptores canabinoides CB1 e CB2 (Cannabinoid binding
receptor type 1 e type 2). São denominados endocanabinóides produzidos pelo
organismo humanos a partir do consumo dos ácidos graxos. O primeiro, CB1
encontrado no SNC, em áreas que controlam a aprendizagem, a memória, as funções
cognitivas superiores e o equilíbrio energético, é responsável pelos principais
efeitos dos canabinoides, ou seja, os efeitos psicotrópicos, enquanto o CB2 fica
a cargo dos efeitos periféricos: nos músculos, órgãos e tecidos expressando-se
principalmente no sistema imunológico, na micróglia.[2] Os
receptores canabinoides pertencem à família dos receptores vinculados à proteína
G e vinculam- se, com as proteínas Gi e interagem com proteínas Gs ou Gq.
(Paronis et al., 2012)
Os
dois receptores vinculados a uma proteína que, quando ativada, inibe a enzima
adenilato ciclase, aumenta a atuação dos canais de potássio e inibe canais de
cálcio, coordenando a liberação de outros neurotransmissores (Castillo et al.,
2012). O receptor CB1 é amplamente identificado em várias estruturas
encefálicas, especialmente em regiões vinculadas ao controle motor, como no
centro da base e no cerebelo. O estriado ventral também possui grande densidade
e intermedia os efeitos hedônicos e reforçadores dos canabinoides. A densidade
dos receptores CB1 também é considerável no hipocampo e em outras áreas do
córtex cerebral. (Djeungoue- Petga & Hebert-Chatelain, 2017).
Os receptores CB1 e CB2
influenciam diversos neurotransmissores como por exemplo, o GABA, glutamato,
noradrenalina, serotonina e dopamina, essa liberada no núcleo accumbens,
potencializando as suas ações afetando diretamente na cognição, na percepção, no
funcionamento motor, apetite, sono, neuroproteção proteção neural,
neurodesenvolvimento e liberação hormonal. (Devinsky et al. 2014).
1.3
Sistema nervoso
O Sistema Nervoso é
fundamental para o funcionamento do corpo na realização das atividades de
locomoção, raciocínio e memória. Formado por
neurônios e células da glia, pode ser classificado em sistema nervoso central
(SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O sistema nervoso central é
constituído por duas partes básicas: o encéfalo e a medula espinhal. O encéfalo
contido no interior da caixa craniana e a medula espinhal encontra-se no
interior da coluna vertebral, no canal vertebral (Gibbons et al., 2019).
O sistema nervoso
periférico está conectado com as outras partes do corpo humano fora do SNC e é
formado por fibras (nervos), gânglios
nervosos e órgãos terminais. Suas demais
funções são: enviar informações aos
órgãos receptores sensoriais, responsáveis pela visão, audição, olfato, paladar
e tato, até o SNC e trazer resposta
adequada deste para os órgãos certos (Heiss et al., 2019).
2. OBJETIVO
Compreender se o uso recreativo da
Cannabis sativa, pode influenciar na diminuição da inteligência
de indivíduos que a utilizem.
3. METODOLOGIA
O presente estudo é uma
revisão de literatura, realizada por meio das seguintes bases de dados: SciELO,
PubMed PsycINFO e Science Direct e foram utilizados os seguintes termos para
realização da busca de dados em português: Cannabis sativa, maconha,
inteligência, neurociência, memória, sistema nervoso e em inglês: Cannabis
sativa, marijuana, intelligence, neuroscience, memory, nervous system.
Foram
entrevistados cinco psicólogos de
maneira anônima cujo requisito pricipal era possuir pacientes que fizessem o uso
crônico da Cannabis
como fumo, a fim de compreender se há perda da memória, dificuldade de
aprendizagem, atenção e alterações nas funções cognitivas.
4. RESULTADOS
Por meio de entrevista
com os cinco psicólogos, foi relatado que seus pacientes
crônicos usuários da
cannabis
afirmaram ter dificuldade no aprendizado
apresentando perda de memória, dificuldades em permanecer concentrados em
determinada função e alterações nas funções cognitivas.
Um dos psicólogos entrevistados, relatou: “O comportamento de usuários
contínuos é de lentidão, falta de memória, falta de localização espacial, perda
de motivação, falta de raciocínio lógico, comportamento
disfuncional para a ordem prática da vida. Não mantêm relacionamentos, não têm
engajamento social ou acadêmico,
não conseguem ter grande sucesso
profissional, são dependentes e solicitantes. Mantêm um comportamento
infantilizado mesmo quando em idade adulta”.
O uso da
cannabis
promove efeitos imediatos no indivíduo: esse apresenta indisposição para
realizar algo, vermelhidão nos olhos, a boca seca, a visão e audição
distorcidas, o sistema imunológico prejudicado, os batimentos cardíacos ficam
acelerados, dando uma sensação de euforia, seguida de relaxamento e riso facil.
Devido ao seu uso prolongado, o homem pode se tornar infértil, pois diminui a
quantidade de testosterona produzida, responsável pelas características
masculinas, tais como voz grossa, barba, músculos e produção de espermatozóides
(Ford et al., 2017).
Devido ao uso contínuo, por meio da neuroimagem,
verificou-se sérios danos nos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo,
desenvolvendo atrofia cortical (Block, 2000).
No
estudo
de Wilson et al. (2000) com 57 indivíduos, sendo 32 homens e 25 mulheres, avaliou-se o volume
cerebral dos seguintes itens: cérebro total, volumes dos ventrículos laterais e
substância branca e cinzenta, demonstrando que indivíduos que utilizavam maconha
antes dos 17 em comparação àqueles que começaram depois, apresentaram uma menor
porcentagem de substância cinzenta cortical, com maior diferença nos lobos
frontais. Em relação à substância branca cerebral, houve uma maior porcentagem
de substância branca cerebral nos indivíduos que fizeram o uso durante a
adolescência.
4.1
Cannabis
e seus efeitos na função
cognitiva
O uso da
Cannabis também influencia no aprendizado, na memória, na atenção e na memória
operacional (Grant et al., 2003). Um ensaio clínico controlado
encontrado em duas meta-análises, demonstrou que usuários apresentaram pior
desempenho em testes neuropsicológicos e nas funções executivas específicas,
na atenção, no aprendizado e memória,
nas habilidades motoras e verbais, em comparação ao grupo não-usuários
(Schreiner et al., 2012).
Um estudo
realizado com adolescentes e adultos usuários por meio de neuroimagem, demonstrou alterações estruturais em regiões
temporais mediais (amígdala e hipocampo), frontais e cerebelares associadas à
exposição ao uso da cannabis (Lorenzetti et al., 2014; Batalla et al., 2014).
Nesse caso, alguns outros estudos científicos apontam
que o uso regular da Cannabis em pacientes com idade inferior aos 20 anos, pode
resultar em déficits cognitivos, desordens psiquiátricas e aumento significativo
da probabilidade de dependência da substância, pois, o sistema neurológico ainda
se encontra em formação, tendo o núcleo accumbens e área tegumentar ventral
(centro de prazer) altamente desenvolvido e a região do córtex pré-frontal,
responsável pelo juízo crítico ainda em desenvolvimento. (Ribeiro, 2014)
Zalesky
et. al. (2012) avaliou comprometimento da conectividade neural de adultos usuários
da cannabis os quais apresentaram
diminuição na conectividade na fímbria direita do hipocampo (fórnix) e do
esplênio do corpo caloso, e nas fibras comissurais.
4.2
Danos na memória
Atualmente, existem evidências que
usuários de maconha podem sofrer problemas no processamento da memória a curto
prazo. A hipótese
é de que a
cannabis compromete a sinalização neural quando se ligam aos receptores de áreas
responsáveis pela memória no cérebro podendo afetar a capacidade de aprendizagem
ocorrendo problemas de concentração.
A memória
é dividida em memória de curto e longo prazo. A memória de curto prazo mantém
temporariamente e a memória de longo prazo é onde as informações
são
guardadas indefinidamente (Hamilton
& Hughes, 2020).
Em um
estudo realizado por Schweinsburg et al. (2008) com 15 adolescentes usuários
de maconha, mostraram anormalidades na resposta do cérebro em relação ao grupo
controle de 12 indivíduos. Os mesmos testes para memória foram repetidos após
1 mês
de abstinência e mesmo assim não houve diferenças em relação
à avaliação anterior.
Em um
ensaio clínico através do exame de
ressonância magnética,
realizado por Yucel et al. (2008) com adultos com média de idade de 20 anos, que
faziam uso diário da cannabis, comparado ao grupo que não fazia tal uso
demonstrou que o grupo usuário da droga, apresentou alterações cerebrais
estruturais, expostas na diminuição de 7% no volume da amígdala e 12% de
diminuição nos volumes bilaterais do hipocampo.
4.3 Dificuldades de
atenção, organização e integrar informação complexa
Sabe-se que o uso crônico da maconha acarreta em dificuldades de atenção,
organização, memória e compreensão de informações complexas. Num estudo com 24
usuários, em que 12 participantes passaram por um mês de abstinência, foi demonstrado
que após esse período, os efeitos do uso crônico da droga podem ser reversíveis. Entretanto,
essa reversibilidade ainda é incerta sendo necessárias mais pesquisas, não é possível
confirmar que a maconha não possa provocar alterações nas redes corticais ou que essas
alterações não ocorram, pois, o cérebro se adapta às mudanças induzidas pela droga. Por
meio de testes de urina positivos para THC ficou provado maior ativação nas
regiões cerebelares frontal e medial, nos usuários ativos ao uso do que aqueles
em abstinência, havendo um maior uso da rede de reserva, ou seja, regiões com
efeito de carga, sugerindo um estado neuroadaptativo[3]
(Chang et al., 2006).Em um estudo realizado por Lundqvist et al. (2005) foi
relatado que usuários de maconha demonstram dificuldades em codificar
informações na memória de longo prazo, aprendizagem verbal prejudicada, sendo
assim se distraem com maior facilidade, tendo aumento de tais efeitos com a
continuidade do uso da droga.
4.4 Efeitos
psicóticos
O uso crônico da maconha é conhecido como fator de risco para a psicose. Em relação à associação da cannabis e a esquizofrenia, pode variar suas causas como: genético-ambientais, etiologias compartilhadas ou da automedicação para sintomas pré-mórbidos (Ferraro et al., 2013). Efeitos psicóticos são alucinações tais como, ouvir vozes, ver pessoas ou objetos que não existem, ter a certeza que está sendo perseguido por alguém ou por câmeras (Miettunen et al., 2008).
5. Considerações finais
A maconha (Cannabis
sativa)
é a droga ilícita mais utilizada em todo o mundo, apesar de não ter tanta importância como outras drogas, cocaína, crack e até o álcool devido ao fato de que seus efeitos são mais subtis que as demais. Com seu uso crônico, é possível desenvolver alguns efeitos maléficos como, por exemplo, no aprendizado, atenção, função cognitiva e memória operacional.
O fato do indivíduo não conseguir se concentrar na leitura
de um livro, assistir a uma vídeo-aula e também não conseguir memorizar tais
aprendizagens deve-se ao fato de que a maconha causa efeitos no processamento da
memória a curto prazo. Tais conjuntos de efeitos dificultam o aprendizado do
indivíduo. Com o tempo de uso, a região frontal do cérebro relacionada à
inteligência, encontra-se prejudicada, com atrofia (Martin-Santos et al., 2010)
e os neurônios se moldam nesta condição resultando em uma inteligência pobre o
que pode trazer problemas para a vida diante de situações que exijam o
raciocínio lógico e tomada de decisões.
O uso da maconha causa transtornos de ordem mental e psiquiátrica, a depender da propensão genética desencadeando esquizofrenia e outros distúrbios psicóticos e transtornos afetivos. Esses distúrbios surgem como conseqüência da disfunção na região límbica do cérebro e diminuição da região da inteligência.
Referências
Aizpurua-Olaizola, O., Omar, J., Navarro, P., Olivares, M., Etxebarria, N., &
Usobiaga, A. (2014).
Identification and quantification of cannabinoids in Cannabis sativa L. plants
by high performance liquid chromatography-mass spectrometry. Analytical and
bioanalytical chemistry, 406(29), 7549-7560.
https://link.springer.com/article/10.1007/s00216-014-8177-x
Batalla, A.; Crippa, J.A.;
Busatto, G.F.; Guimaraes, F.S.; Zuardi, A.W.; Valverde, O.; Atakan, Z.; McGuire,
P.K.; Bhattacharyya, S.; Martín-Santos, R. (2014). Neuroimaging Studies of Acute
Effects of THC and CBD in Humans and Animals: a Systematic Review. Current
Pharmaceutical Design, 20(13). 2168-2185(18).
Bindesri, S. D., Jebailey,
R., Albarghouthi, N., Pye, C. C., & Brosseau, C. L. (2020).
Spectroelectrochemical and computational studies of tetrahydrocannabinol (THC)
and carboxy-tetrahydrocannabinol (THC-COOH). Analyst, 145(5), 1849-1857.
https://doi.org/10.1039/C9AN02173F
Block, R. I., O'Leary, D. S., Hichwa, R. D.,
Augustinack, J. C., Ponto, L. L. B., Ghoneim, M. M., ... & Andreasen, N. C.
(2000). Cerebellar hypoactivity in frequent marijuana users. Neuroreport, 11(4),
749-753.
Decreto Nº 9.761, de 11 de Abril (2019). Aprova a Política
Nacional sobre Drogas.
Diário Oficial da União: Edição 70-A, Seção 1
Extra, Página
https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/71137357
Castillo, P. E., Younts, T.
J., Chávez, A. E., & Hashimotodani, Y. (2012). Endocannabinoid signaling and
synaptic function. Neuron, 76(1), 70-81.
https://doi.org/10.1016/j.neuron.2012.09.020
Chang, L., Yakupov, R.,
Cloak, C., & Ernst, T. (2006). Marijuana use is associated with a reorganized
visual-attention network and cerebellar hypoactivation. Brain, 129(5).
1096–1112.
https://doi.org/10.1093/brain/awl064
Cohen, K., Weizman, A., &
Weinstein, A. (2019). Positive and negative effects of cannabis and cannabinoids
on health. Clinical Pharmacology & Therapeutics, 105(5), 1139-1147.
https://doi.org/10.1002/cpt.1381
Corrêa, L.
T., Plata, C. F., Ricci, E. L., Nicoletti, M. A., Caperuto, E. C., de Souza
Spinoza, H., ... & Fukushima, A. R. (2020). Revisão Bibliográfica
Sistematica-Sistema de Endocanabinoides Tendências de Uso na Farmacologia.
Brazilian Journal
of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics, 9(2),
146-167.
https://doi.org/10.17063/bjfs9(2)y2020146
Djeungoue‐Petga, M. A., & Hebert‐Chatelain, E. (2017). Linking mitochondria and
synaptic transmission: the CB1 receptor. Bioessays, 39(12), 1700126.
https://doi.org/10.1002/bies.201700126
Dhadwal, G., & Kirchhof, M.
G. (2018). The Risks and Benefits of Cannabis in the Dermatology Clinic.
Journal of Cutaneous Medicine and Surgery, 22(2), 194–199.
https://doi.org/10.1177/1203475417738971
Devinsky, O., Cilio,
M. R., Cross, H., Fernandez‐Ruiz, J., French, J., Hill, C., ... &
Friedman, D. (2014). Cannabidiol: pharmacology and potential therapeutic role in
epilepsy and other neuropsychiatric disorders. Epilepsia, 55(6), 791-802.
https://doi.org/10.1111/epi.12631
Dinis-Oliveira, R. J. (2016). Metabolomics of
Δ9-tetrahydrocannabinol: implications in toxicity. Drug metabolism reviews,
48(1), 80-87.
https://doi.org/10.3109/03602532.2015.1137307
ElSohly, M. A., Radwan, M. M., Gul, W., Chandra, S., &
Galal, A. (2017). Phytochemistry of Cannabis sativa L. Phytocannabinoids,
1-36.
https://doi.org/10.1007/978-3-319-45541-9_1
Ferraro, L., Russo, M., O'Connor, J., Wiffen, B. D., Falcone, M. A., Sideli,
L., ... & Di Forti, M. (2013). Cannabis users have higher premorbid IQ than
other patients with first onset psychosis. Schizophrenia Research, 150(1),
129-135.
https://doi.org/10.1016/j.schres.2013.07.046
Fogaça, J.R.V. (2020) THC -
Principal componente ativo da maconha. Mundo Educação.
https://bit.ly/3qszTFQ
Ford, T. C., Hayley, A. C.,
Downey, L. A., & Parrott, A. C. (2017). Cannabis: an overview of its adverse
acute and chronic effects and its implications. Current drug abuse reviews,
10(1), 6-18.
https://doi.org/10.2174/1874473710666170712113042
Grant, I., Gonzalez, R.,
Carey, C. L., Natarajan, L., & Wolfson, T. (2003). Non-acute (residual)
neurocognitive effects of cannabis use: a meta-analytic study. Journal of the
International Neuropsychological Society, 9(5), 679-689.
https://doi.org/10.1017/S1355617703950016
Gibbons, C. H. (2019). Basics of autonomic nervous
system function. Handbook of clinical neurology, 160, 407-418.
https://doi.org/10.1016/B978-0-444-64032-1.00027-8
Hamilton, I., & Hugues, E. (2020, julho 16). Maconha faz mal – mas também faz
bem – à memória. Projeto Colabora.
https://bit.ly/3HagGhY
Heiss, C. N., & Olofsson, L.
E. (2019). The role of the gut microbiota in development, function and disorders
of the central nervous system and the enteric nervous system. Journal of
neuroendocrinology, 31(5), e12684.
https://doi.org/10.1111/jne.12684
Lorenzetti, V., Solowij, N.,
Fornito, A., Ian Lubman, D., & Yucel, M. (2014). The association between regular
cannabis exposure and alterations of human brain morphology: an updated review
of the literature. Current pharmaceutical design, 20(13), 2138-2167.
Lundqvist, T. (2005) Cognitive consequences of cannabis use: comparison with
abuse of stimulants and heroin with regard to attention, memory and executive
functions. Pharmacol Biochem Behav.
81(2), 319-330
https://doi.org/10.1016/j.pbb.2005.02.017
Martín-Santos, R., Fagundo, A., Crippa, J., Atakan, Z.,
Bhattacharyya, S., Allen, P., . . .
McGuire, P. (2010).
Neuroimaging in cannabis use: A systematic review of the literature.
Psychological Medicine, 40(3), 383-398.
https://doi.org/10.1017/S0033291709990729
McPartland, J. M., Guy, G. W., & Di Marzo, V. (2014). Care and feeding of the
endocannabinoid system: a systematic review of potential clinical interventions
that upregulate the endocannabinoid system. PloS one, 9(3),
e89566.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.0089566
Miettunen, J., Törmänen, S., Murray, G., Jones, P.,
Mäki, P., Ebeling, H., . . . Veijola, J. (2008). Association of cannabis use
with prodromal symptoms of psychosis in adolescence. British Journal of
Psychiatry, 192(6), 470-471.
https://doi.org/10.1192/bjp.bp.107.045740
Nestler, E. J.; Hyman S. E.; Robert, C. M. (2001).
Molecular neuropharmacology: a foundation for clinical neuroscience. New York:
McGraw-Hill. 539p.
Paronis, C. A., Nikas, S. P., Shukla, V. G., &
Makriyannis, A. (2012). Δ9-Tetrahydrocannabinol acts as a partial
agonist/antagonist in mice. Behavioural pharmacology, 23(8), 802.
https://doi.org/10.1097%2FFBP.0b013e32835a7c4d
Radhakrishnan, R., Wilkinson, S. T., & D’Souza, D. C.
(2014). Gone to pot–a review of the association between cannabis and psychosis.
Frontiers in psychiatry, 5, 54.
https://doi.org/10.3389/fpsyt.2014.00054
Ribeiro, J. A. C. (2015). A cannabis e suas aplicações
terapêuticas. Tese de Doutorado. Universidade Fernando Pessoa.
http://hdl.handle.net/10284/4828
Robinson, T. E., & Becker, J. B. (1986). Enduring
changes in brain and behavior produced by chronic amphetamine administration: a
review and evaluation of animal models of amphetamine psychosis. Brain research
reviews, 11(2), 157-198.
https://doi.org/10.1016/0165-0173(86)90002-0
Schreiner, A. M., & Dunn, M. E. (2012). Residual
effects of cannabis use on neurocognitive performance after prolonged
abstinence: a meta-analysis. Experimental and clinical psychopharmacology, 20(5),
420–429.
https://doi.org/10.1037/a0029117
Schweinsburg, A. D., Nagel, B. J., Schweinsburg, B. C.,
Park, A., Theilmann, R. J., & Tapert, S. F. (2008). Abstinent adolescent
marijuana users show altered fMRI response during spatial working memory.
Psychiatry Research: Neuroimaging, 163(1), 40-51.
https://doi.org/10.1016/j.pscychresns.2007.04.018
Volkow, N. D., Baler, R. D., Compton, W. M., & Weiss, S. R. (2014). Adverse
health effects of marijuana use. New England Journal of Medicine, 370(23),
2219-2227.
https://doi.org/10.1056/NEJMra1402309
Wilson, W., Mathew, R., Turkington, T., Hawk, T.,
Coleman, R. E., & Provenzale, J. (2000). Brain morphological changes and early
marijuana use: a magnetic resonance and positron emission tomography study.
Journal of addictive diseases, 19(1), 1-22.
https://doi.org/10.1300/J069v19n01_01
Yücel, M., Solowij, N., Respondek, C., Whittle, S.,
Fornito, A., Pantelis, C., & Lubman, D. I. (2008). Regional brain abnormalities
associated with long-term heavy cannabis use. Archives of general psychiatry,
65(6), 694-701.
https://doi.org/10.1001/archpsyc.65.6.694
Zalesky, A., Solowij, N., Yücel, M., Lubman, D. I.,
Takagi, M., Harding, I. H., ... & Seal, M. (2012). Effect of long-term cannabis
use on axonal fibre connectivity. Brain, 135(7), 2245-2255.
https://doi.org/10.1093/brain/aws136
[1]
PNAD - Política Nacional Sobre Drogas.
[2]
As micróglias são células neuronais centrais que se destacam por sondar o
tecido cerebral e capilares.
[3]
Estado Neuroadaptativo pode ser caracterizado pela tolerância ou
sensibilização comportamental diante do uso repetitivo e compulsivo de
determinada substância psicoativa, por exemplo. A sensibilização
comportamental implica em adaptações neuroquímicas e moleculares do
sistema dopaminérgico.
(Robinson, Becker, 1986; Nestler, Hyman, Robert, 2001).