Recebido: 08-01-2022 | Aprovado: 14-02-2022
Andreia Carneiro-Carvalho, CITAB, Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas, UTAD (andreiamcc_500@hotmail.com)
Isilda Rodrigues, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (isilda@utad.pt)
Como referenciar este artigo:
Carneiro-Carvalho, A., & Rodrigues, I. (2022). A peste negra e as crenças religiosas: Conflito Ciência e Religião.
RevistaMultidisciplinar, 4(2), 5–19.
https://doi.org/10.23882/rmd.22093
Resumo: A peste negra surgiu no século XIV na Europa, desencadeada pela
bactéria Yersinia pestis transmitida pelas pulgas e rato-negro (Rattus rattus),
sendo que a disseminação da doença ocorreu de forma rápida pelas rotas
comerciais da seda e de especiarias. O alto índice de contágio e mortalidade
levou muitas pessoas a apoiarem-se na religião pois acreditavam, que através
desta, se salvariam. À época, como o conhecimento científico, sobre este tipo de
doenças era escasso, a população acreditava numa relação entre medicina e
religião, considerando a peste negra como um castigo divino pelos pecados
cometidos, criando deste modo um problema social grave. Ao longo da história, a
Igreja Católica, alegadamente, poderá ter sido um fator limitante ao
desenvolvimento do conhecimento científico. A ignorância e a fé desmedida terão
conduzido a consequências graves, como a perseguição e assassinato de inocentes
em nome da fé, sendo deste modo responsável por um elevado número de mortos na
Idade Média ao incentivar a eliminação dos judeus na Europa, como uma
necessidade de se redimirem pelos pecados.
Neste texto pretendemos apontar os principais contributos para o desenvolvimento
do conhecimento sobre esta patologia bem como a sua relação com a religião, as
teorias difundidas pela Igreja e a crença cega do povo nas mesmas, para alcançar
o perdão de Deus. A Religião pode ser um entrave ao conhecimento científico,
impedindo o avanço da Ciência, além de conduzir as pessoas a cometerem atitudes
erróneas e perversas para alcançar os seus objetivos.
Palavras-chave: autoflagelação, peste bubónica, religião, rituais fúnebres
Abstract: The black plague appeared in the 14th century in Europe by the
bacterium Yersinia pestis transmitted by fleas and black rat (Rattus rattus) ,
moreover the spread of this disease was very quickly through silk and spices
trade routes. The high rate of contagion and mortality led many people to rely
on religion, because they believed it would save themselves. At the time, as
scientific knowledge about this type of diseases was scarce, the population
believed in a relationship between medicine and religion, considering the Black
Death as a divine punishment for the sins creating a serious social problem.
Over the course of history, the Catholic Church may have been a limiting factor
in the development of scientific knowledge. Ignorance and unreasonable faith led
to serious consequences, such as, the persecution and murder of innocents in the
name of the faith, thus being responsible for a high number of deaths in the
Middle Ages for encouraging the elimination of Jews in Europe, as a need for
redeem themselves for their sins.
In this text, we intend to present the main contributions to the development of
knowledge about this pathology as well its relationship with religion, the
theories disseminated by the Church and the people's blind belief in them to
obtain God's forgiveness. Religion can be an obstacle to scientific knowledge,
preventing the advance of Science, in addition to leading people to commit wrong
and perverse attitudes to achieve their objectives.
Keywords: bubonic plague, funebre rituals, religion, self-flagellation
Introdução
A Peste Negra foi uma doença problemática que assolou o século XVI. Sendo transmitida ao ser humano pelas pulgas e ratos (rato-negro, Rattus rattus), propagou-se por todo o mundo, transformando-se em pandemia. Neste período ocorreram alguns fatores que favoreceram o desenvolvimento e propagação da mesma, tais como: a falta de condições de higiene e de saneamento básico, a sobrelotação das habitações e ausência de ventilação das mesmas e o convívio de perto das pessoas com os animais domésticos assim como os ratos que surgiam nas mesmas. Por outro lado, o transporte marítimo, bastante impulsionado na época, através da rota da seda e das especiarias, demonstrou como o mundo estava interligado ao ter proporcionado uma difusão rápida desta doença por todos os continentes. Durante muitos anos foi incutido no povo que a peste representava um castigo divino, devido aos pecados cometidos pelo homem na vida terrena, o que originou um aumento da adesão ao cristianismo para aplacarem a cólera de Deus. Esta situação levou os cristãos a seguirem diversas medidas religiosas de forma que quando alcançassem o purgatório pudessem salvar a sua alma e obter a vida eterna. As ideologias incutidas pela Igreja foram rapidamente assimiladas por grande número de pessoas, porque o medo e o pânico as dominavam seguindo fielmente a narrativa que os membros do clero difundiam e colocando-as em prática, o que teve graves consequências sociais.
O presente trabalho tem como objetivos apresentar a forma como a Peste Negra surgiu e se difundiu pelo mundo; refletir sobre o papel da religião no desenvolvimento do conhecimento médico da época; apresentar as teorias que surgiram relacionados com a origem da peste e por último inferir sobre o papel da religião no aparecimento de movimentos e ações com fins desastrosos para a sociedade.
Propomo-nos, neste artigo, abordar a interpretação da
pandemia da Peste Negra formulada pelos membros da Igreja, ao longo dos séculos
XIV ao XVI, com base na análise de algumas obras como The Plague in Siena: Na
Italian Chronicle (1348), Le Decameron (1558), La Cronica
(1979) e La Muerte Negra. Desastres en la Europa (1989) e de
uma narrativa descritiva e poética de autores que através da literatura
procuraram retratar as situações ocorridas e os sentimentos vividos na época
durante a fase crítica da Peste Negra, permitindo, deste modo, obter
ensinamentos sobre esta patologia para futuras epidemias e pandemias.
Peste Negra, origem e sintomas
A história da Humanidade foi afetada por várias pandemias, destacando-se a Peste
Negra, que é considerada uma das mais mortíferas. Foram dizimadas milhões de
vidas em todo o mundo, como relatado por alguns autores (Sánchez-David, 2008):
“… A peste matou
inúmeras pessoas e também vários animais domesticados pelo homem, como cães,
cavalos, pássaros e até os próprios ratos que viviam nas paredes das casas”
Gottfried, 1989 in La muerte
negra – Desastres en la Europa medieval
A Peste Negra ocorreu entre 1347-1722 e espalhou o medo na Idade
Média e no Início da Idade Moderna. Foi causada pelo agente infecioso, a
bactéria Yersinia pestis, originária da China e Ásia Central, que chegou
à Europa pelos barcos utilizados nas rotas comerciais (de seda e especiarias),
que atracavam nos portos de cidades costeiras da Europa, como Veneza e Génova,
por onde se disseminou rapidamente matando metade da população europeia, como
relatado no excerto seguinte (Silva et al., 2018):
“Eram tantas pessoas a morrer de dia e de noite, que acabavam por
serem lançadas em valas e cobertas apenas com terra, quando ficavam superlotadas
eram abertas mais para o mesmo fim. E eu, Agnolo di Tura, tive que ser eu mesmo
a enterrar os meus cinco filhos (..). O número de mortos era tão grande que se
acreditava que tinha chegado o fim do mundo”
Di Tura, 1348, The Plague in Siena: An Italian Chronicle.
Inicialmente o agente infecioso era transmitido aos humanos por ratos e pulgas
que rapidamente o transmitiam devido à falta de
cuidados de higiene e saneamento básico. À época a sociedade tinha o costume de
descartar o lixo doméstico e as fezes pela janela o que constituía um problema
grave que promovia a propagação da doença. Mais tarde passou a ser transmitida
pelo ar nomeadamente por espirros, assim como por contacto com secreções e
materiais contaminados, sendo que as bactérias tinham a capacidade de se
infiltrar na pele do ser humano através de feridas (Sánchez-David,
2008; Miguelsanz & Ramos, 2015). Só em 1980 quando os investigadores Poinar e
Krause realizaram uma escavação onde foram encontrados 2400 corpos, foram
efetuados estudos que determinaram que a peste negra era causada pelo bacilo
Yersinia pestis (Callaway, 2011).
Existem três tipos
clínicos de Peste Negra: a bubónica, a septicémica e a pneumónica, as quais diferem entre si pela forma de transmissão e pela
severidade com que ataca o ser humano.
A bubónica foi a mais retratada ao longo da história em gravuras como
podemos observar na Fig. 1 (Escuer, 2020). Os principais sintomas eram febre
acima dos 39ºC, delírio, aumento e inchaço dos gânglios linfáticos presentes nas
axilas, no pescoço e nas virilhas e o aparecimento de manchas negras na pele
resultantes de hemorragias. Contudo, o ser humano também podia infetar-se e
disseminar a doença a partir de secreções (pus e sangue) ou através da tosse na
forma pneumónica (Gurtner, 2020). Em
relação à sintomatologia, era frequente ainda
sofrerem calafrios, dores em todo o corpo, náuseas, dores de cabeça, vómitos e
ataques de convulsão (Follador, 2016; Silva
et al., 2018).
Giovanni Boccaccio (1313-1375), foi um importante escritor italiano, poeta e
humanista do Renascimento, que na sua obra denominada Le Decameron
apresentou os sintomas dos doentes com peste negra na época, referindo o
seguinte:
Inicialmente os doentes apresentavam bubões na região da virilha ou
nas axilas, sendo encontrados tanto em homens como mulheres, podendo alcançar o
tamanho de um ovo ou de uma maçã. Mais tarde, quando a doença evoluiu começaram
a surgir manchas negras espalhas pelo corpo, algumas pessoas apresentavam
manchas de maior dimensão outras mais pequenas, mas em maior número, sendo o
aparecimento destas manchas anúncio da inevitável morte.
Boccacio, 1558, Le Decameron, p.
90
O mesmo autor acrescentou ainda que todos podiam ser infetados com a Peste Negra
mesmo os membros da realeza. Assim, há registo que o rei de Castela Afonso XI
(1311-1350) ficou infetado no acampamento militar decorrente de um cerco
efetuado em Gibraltar e também diversos familiares do rei Pedro IV de Aragão
(1319-1387) sucumbiram à peste, nomeadamente a sua filha, a mulher e uma
sobrinha. A propagação da doença era muito elevada
principalmente entre aqueles que tinham contacto direto com os doentes, como
familiares, criados, padres e médicos, sendo estes mais vulneráveis (Follador,
2016).
Alguns
autores, nomeadamente Gusmão (1894) reafirmou a ideologia da origem da peste
através do ar referindo que:
As crenças religiosas e o castigo divino
Na Idade Média o conhecimento científico na área da medicina era muito limitado.
Os conhecimentos médicos eram frequentemente relacionados com a religião, sendo
as doenças frequentemente associadas a aspetos religiosos. Existia, por isso um
certo conflito entre a Ciência e a Religião, na medida em que a Igreja proibia a
realização de autópsias com o intuito de compreender melhor o corpo humano e,
por outro lado, a medicina era muito praticada por membros do clero e por
nobres, que “receitavam” chás e orações para evidenciarem a sua fé em Deus
(Sílva et al., 2018).
Durante este período as várias doenças que iam surgindo, como a Lepra, a Peste
Negra e a epilepsia, iam sendo explicadas pelos pecados da carne, havendo por
parte da Igreja um incentivo a atitudes discriminatórios, acabando os portadores
destas doenças por serem ignorados, abandonados e excluídos da sociedade
(Quírico, 2021).
Como
referiu, Jacme d’Agramont nas suas obras
Pentateuco e no Libro de los Reyes
que:
“(…) Não existe outro conselho que rezar humildemente, sem
desconsiderar todos os conselhos médicos. que existia a mão de Deus sobre as
pestes que ocorreram ao longo do tempo, sendo resultado conjunto da decisão
divina e dos pecados humanos. (…)”
Jacme d’Agramont
Regirnent,
pp. 55-58
citado por Arrizabalaga Valbuena, 1991, p. 90
A tudo isto somou-se o medo perante o desconhecido, face ao elevado índice de
contágio e à elevada mortalidade, onde a ideia do castigo divino foi incentivada
(Fig. 4).
Sob a ótica cristã, a doença fomentou a abordagem do pecado, da culpa, do
arrependimento e da redenção, ressaltando o papel social da caridade.
Em face à recorrência da peste, os homens entregaram-se mais dóceis a
certas crenças e práticas cristãs (Bastos, 1997).
As pessoas começaram a ver na Igreja um refúgio e uma esperança para ultrapassar
a doença e salvarem as suas almas (Follador,
2016).
O caos e aflição resultante da peste, como esta sendo resultado da fúria
divina foi interpretado por muitos como uma premonição do fim do mundo (Quírico,
2021). A Peste Negra era vista do ponto
de vista religioso como o resultado do pecado coletivo resultado das impurezas
da sociedade (Bastos, 1997).
Na Idade Média houve o esforço por parte da religião de
associar a pandemia a um castigo divino e os membros da Igreja esforçaram-se por
incutir esta ideia nas pessoas através de discursos orais e escritos,
ilustrações, rituais e cerimónias que realizavam. Do ponto de vista cristão a
peste negra começou a incutir nas pessoas sentimentos de culpa, pecado,
arrependimento e redenção, sendo essencial a relação do homem com Deus (Bastos,
1997). Esta perspetiva, pode ser facilmente observada na obra
Decameron
de Giovanni Bocaccio (1313-1375), onde este autor descreve alguns episódios que
viveu em Florença durante o período da Peste Negra e onde é inegável a crença na
teoria da cólera divina como justificação para a Peste Negra:
“A peste foi uma decisão divina dos céus sobre os homens, resultantes do
desagrado de Deus, teve origem no Oriente e disseminou-se rapidamente para
várias regiões, tendo sido mais afetado o Ocidente (…).
Boccaccio (1558) in Le Decameron p.100
Por seu lado, Delumeau (1978), referiu que a Igreja incutiu nas pessoas que a
peste era um castigo divino, conseguindo durante vários séculos dominar a
mentalidade dos cristãos através do medo da ira divina. A interferência da
religião na sociedade chegou ao ponto de serem organizados eventos religiosos,
como novenas e procissões para pedirem auxílio aos céus, nomeadamente, a
São Sebastião, a São Roque e à Virgem Maria, consideradas
figuras religiosas importantes capazes de conferir proteção contra a Peste Negra
(Pinto, 2020;
Marlow & Rosa, 2021). Os religiosos da época associavam as flechas lançadas dos
céus que se abateram sobre os homens com a peste, pelo que existia uma veneração
pelos santos, como São Sebastião e São Roque que foram vítimas de ferimentos de
flechas, os quais acabaram por ser considerados protetores contra esta doença
(Bombini, 2020; Marlow & Rosa, 2021). Tornou-se
evidente o domínio da religião sobre a vida, a Igreja esforçou-se por controlar
a forma de pensar das pessoas, associando tudo ao sobrenatural, ao divino, ao
sacramento e à bíblia, impregnando ao extremo a religião no quotidiano dos fiéis
(Bastos, 1997).
A elevada mortalidade que se verificava na época ajudava a
corroborar estas teorias religiosas, acreditando os cristãos que ninguém parecia
escapar ileso do poder punitivo de Deus, que exercia o seu castigo e justiça no
mundo (Marlow e Rose, 2021).
Perante estas condições começou a ser transmitido a dialética de que a punição
requeria a redenção dos pecadores, impondo-se a ideia de que era urgente e
inadiável obter piedade divina (Bastos, 1997). À comunidade exigia-se a
confissão das faltas cometidas e implorarem pelo perdão coletivo, neste
contexto, o fanatismo religioso e o desespero criaram práticas religiosas
desmedidas, como a criação dos flagelados, o aparecimento de novas ideologias
cristãs, heresias, realização de procissões, a perseguição a pessoas inocentes
consideradas pecadoras e até mesmo o assassinato de todos os que porventura
fossem considerados, por algum motivo, responsáveis pela Peste Negra (Días,
2016).
Perante a incerteza, a religião procurou encontrar culpados para a
doença, criando ideais irracionais e descabidos, como a teoria difundida por
elementos da Igreja, de que os cursos
de água foram envenenados pelos judeus, leprosos, bruxas, feiticeiros e
muçulmanos, ou seja, todos aqueles que de alguma forma eles consideravam que
eram contra os cristãos e a própria Igreja (Toapanta, 2021).
Os membros do clero difundiam a ideia de que o tempo da pandemia era um período
retrospetivo das ações do homem, que apesar de existir dor e provação, também
era necessário haver a purificação exigida pelo Senhor. O medo que dominava foi
monopolizado pela religião para os seus próprios fins, permitindo através do
discurso atrair mais pessoas para o cristianismo. No entanto, levou também a
sentimentos de desespero, desesperança, angústia, loucura, incitando explosões
de violência extrema e heresia coletivas e manipulação psicológica das pessoas
(Bastos, 1997). Guy de Chauliac (1300-1368),
médico pessoal do papa
Clemente VI, corroborou esta perspetiva violenta de perseguição
aos judeus, incitada pela Igreja, que acusava este povo como um dos principais
responsáveis pela Peste Negra, escrevendo que:
“(…) A causa da
elevada mortalidade é desconhecida, mas alguns acreditavam que os judeus tinham
envenenado o mundo e por essa razão os mataram (…).”
Chauliac citado por Castiglioni, 1947, p. 420
Durante a estadia de
Chauliac em
Avignon, a cidade foi tomada pela peste e a
maioria dos médicos fugiu, no entanto, ele permaneceu nas suas funções e tratou
os doentes, documentando os sintomas ao pormenor, além de alegar ter sido
infetado pela peste e ter sobrevivido com os seus próprios tratamentos (Vieira,
2019).
Contrariamente às crenças dos cristãos ao acusarem erroneamente os judeus,
também eles sucumbiram à pandemia como todos, qualquer pessoa podia contrair a
patologia dependendo do seu grau de exposição.
A maioria
dos médicos que atendiam as populações em várias regiões eram judeus, que
lidavam diariamente com os pacientes com peste negra, representando um dos
grupos mais suscetíveis à doença devido ao seu contacto contínuo com pacientes
infetados. O mesmo aconteceu com os sacerdotes que foi um dos grupos do
clero mais afetado pela doença, os quais acabavam infetados ao prestarem as suas
funções aos moribundos quando solicitados pelos familiares, acabando o clero por
ficar sem párocos para dirigir as eucaristias e darem a extrema unção (Follador,
2016).
Como a Igreja realçava a
importância dos cristãos se redimirem dos seus pecados tentando obter a vida
eterna, através da extrema unção, aumentou o número de solicitações dos membros
do clero, acabando muitos por morrerem vítimas de peste. Por esta razão, o clero
viu-se obrigado a deixar sozinhos muito doentes sem lhes prestar a extrema unção
época (Marlow & Rosa, 2021).
Esta decisão começou alegadamente a criar uma rutura entre as pessoas e a
Igreja, porque se era importante se redimirem dos seus pecados, uma vez que era
a causa da cólera de Deus, a extrema unção, fazia a diferença entre obterem o
caminho do inferno ou atingir o purgatório (Quírico, 2012). Por esta razão,
alguns começaram a se sentir abandonados e
questionavam a Igreja como instituição, pois até os sacerdotes morriam de peste,
então eles estavam definitivamente condenados, outros, por seu lado,
mesmo vendo a ineficácia da Igreja em suprir as necessidades causadas pela
peste, decidiram intensificar a sua devoção desmedida
(Días, 2016).
A religião teve um impacto muito grande na população da época. Tentou encontrar
culpados para doenças que não conseguia explicar, acabando por serem
discriminados, perseguidos e mortos muitos inocentes.
Conclusão
Este texto permitiu retratar o caos vivido e o sentimento de
desespero durante uma das maiores pandemias de sempre, com repercussões
negativas no Mundo, que foi a Peste Negra. Por outro lado, esta doença
fortaleceu ainda mais o culto e os ideais religiosos.
A Igreja foi responsável por entravar a evolução do conhecimento
médico da época,
sendo que a cura era obtida por perdão divino, sugerindo-se e praticando-se atos
inimagináveis para esse efeito.
Nesta época foram implementados vários rituais
cristãos, como procissões, heresias e danças macabras devido à insistência da
Igreja no discurso de ser preciso obter a redenção. As pessoas aderiam
frequentemente a estes rituais, com uma necessidade obsessiva de aplacar a fúria
de Deus, se redimirem pelos pecados para obterem o perdão divino, alcançarem o
céu e salvarem a sua alma, a única salvação possível no caos da Peste Negra
segundo a religião da época.
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