Defesa internacional contra as doenças epidémicas
Da visão de Jules Héricourt
DOI:
https://doi.org/10.23882/rmd.22086Palavras-chave:
Héricourt, peste bubónica, controlo sanitário, médico de bordo, passe sanitárioResumo
As doenças epidémicas que assolaram as populações europeias vieram juntar-se às misérias já existentes até meados do século XIX, provocando consideráveis perdas de vidas humanas. O continente europeu tem uma longa história com a peste, doença causada pela bactéria Y. pestis. Ao contrário do que se possa pensar, a peste bubónica não é uma doença do passado. Continua presente em mais de uma dezena de países do mundo. Este artigo analisa as ideias de Jules Héricourt relativamente à transmissibilidade internacional das doenças epidémicas e o modo de mitigar as suas cadeias. Apoia-se, na essência, na sua obra Les Frontières de la Maladie, nomeadamente na Défense internationale contre las maladies épidémiques, et systémes quarantenaires. Em 1901, um surto de peste assolou os passageiros e a tripulação do navio Senegal, num cruzeiro no Mediterrâneo. Foi imposta uma quarentena a toda a tripulação e aos 174 passageiros no lazareto do arquipélago francês de Frioul. Registou-se uma morte. A falta de serviços mínimos e de medidas de desinfeção imediata dos passageiros e dos respetivos pertences poderia ter agudizado o problema. Héricourt, médico coautor da seroterapia, discorda dos métodos adotados pelas autoridades sanitárias, que seriam ilusórios na defesa internacional contra as doenças epidémicas. O autor propõe uma dupla solução prática e eficaz para o problema da transmissão das doenças exóticas nas viagens marítimas: a valorização do passe sanitário e a modificação do papel do médico de bordo. Todos os passageiros provenientes de territórios contaminados deveriam ser portadores do passe sanitário, sob rigoroso controlo das autoridades. Ao médico de bordo caber-lhe-ia constituir-se como verdadeiro agente da administração sanitária, como higienista, desmascarando potenciais doentes a partir de exames médicos durante a viagem e evitando que passageiros dados como sãos contaminassem a comunidade, por estarem efetivamente doentes.
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