Alguns contributos das Neurociências para a Educação
Os ambientes enriquecidos aumentam a capacidade de aprendizagem do nosso cérebro?
DOI:
https://doi.org/10.23882/NE2145Palavras-chave:
ambiente, educação, genes, neurociências, neuroplasticidadeResumo
A reflexão e a discussão sobre o papel da especificação genética e da experiência na aquisição de uma função e no desenvolvimento de um indivíduo traduz um debate fascinante e muito atual entre quem trabalha na área do desenvolvimento do comportamento. Acerca do desenvolvimento do comportamento humano e da influência da herança biológica e do meio ambiente estabeleceram-se posições desencontradas e, por vezes, exclusivistas. De um lado, os adeptos da herança genética excluem a possibilidade da influência do meio ambiente. Do outro lado, os adeptos do meio ambiente excluem a herança genética. Existe também uma posição eclética, conciliando ambos os extremos. Além disso, no âmbito das próprias tendências surgem matizes diferenciadoras. Trata-se, portanto, de um assunto bastante polémico ao qual dedicamos este trabalho numa perspetiva das Neurociências. Abordaremos a neuroplasticidade cerebral como a capacidade que o sistema nervoso possui de mudar e adaptar-se, em resposta a estímulos internos e externos, induzindo alterações estruturais e / ou funcionais, ao longo da vida. A plasticidade cerebral constitui um dos pilares dos processos de aprendizagem e de memória. Quando se aprende e se memoriza ou quando se descobre algo desconhecido, a nova experiência deixa uma marca que se traduz em alterações no cérebro. Em suma, o papel das Neurociências no domínio das Ciências da Educação vai ganhando corpo e o conceito de neuroplasticidade é uma condição sine qua non para se tentar estabelecer uma ligação entre a educação, o comportamento e o cérebro.
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