Alguns contributos das Neurociências para a Educação
Os ambientes enriquecidos aumentam a capacidade de aprendizagem do nosso cérebro?
DOI :
https://doi.org/10.23882/NE2145Mots-clés :
ambiente, educação, genes, neurociências, neuroplasticidadeRésumé
A reflexão e a discussão sobre o papel da especificação genética e da experiência na aquisição de uma função e no desenvolvimento de um indivíduo traduz um debate fascinante e muito atual entre quem trabalha na área do desenvolvimento do comportamento. Acerca do desenvolvimento do comportamento humano e da influência da herança biológica e do meio ambiente estabeleceram-se posições desencontradas e, por vezes, exclusivistas. De um lado, os adeptos da herança genética excluem a possibilidade da influência do meio ambiente. Do outro lado, os adeptos do meio ambiente excluem a herança genética. Existe também uma posição eclética, conciliando ambos os extremos. Além disso, no âmbito das próprias tendências surgem matizes diferenciadoras. Trata-se, portanto, de um assunto bastante polémico ao qual dedicamos este trabalho numa perspetiva das Neurociências. Abordaremos a neuroplasticidade cerebral como a capacidade que o sistema nervoso possui de mudar e adaptar-se, em resposta a estímulos internos e externos, induzindo alterações estruturais e / ou funcionais, ao longo da vida. A plasticidade cerebral constitui um dos pilares dos processos de aprendizagem e de memória. Quando se aprende e se memoriza ou quando se descobre algo desconhecido, a nova experiência deixa uma marca que se traduz em alterações no cérebro. Em suma, o papel das Neurociências no domínio das Ciências da Educação vai ganhando corpo e o conceito de neuroplasticidade é uma condição sine qua non para se tentar estabelecer uma ligação entre a educação, o comportamento e o cérebro.
Références
Alcock, J. (1998). Animal behavior: an evolutionary approach. Sunderland, Massachusetts: Sinauer Associates.
Alonso, J.R., & Esquisábel, I.A. (2019a). O Cérebro Nasce ou Faz-se? Genes e ambiente. Atlântico Press.
Alonso, J.R., & Esquisábel, I.A. (2019b). Da Alma à Neurociência. Breve história do conhecimento sobre o cérebro. Atlântico Press.
Bentivoglio, M., & Grassi-Zucconi, G. (2019). Quando o cérebro envelhece. Mitos e certezas sobre um processo universal (e inevitável). Atlântico Press.
Berardi, N., & Sale, A. (2019). Ambiente, Plasticidade e Desenvolvimento Cerebral. Os efeitos do ambiente na construção do indivíduo. Atlântico Press.
Blakemore, S.J., & Frith, U. (2009). O Cérebro que Aprende. Lições para a Educação. Lisboa: Gradiva.
Calafate, L. (1989). Biologia e Comportamento em Jean Piaget: o ambiente social e o desenvolvimento dos comportamentos aprendidos. Inovação, 2(4), 454-466.
Calafate, L. (2000a). Etologia da Criança: uma perspetiva Ontogenética das “Competências-Alicerce”. Saber e Educar, 5, 49-81.
Calafate, L. (2000b). Biologia e desenvolvimento: algumas implicações do padrão de crescimento do homem para a educação. O Professor, 68, 43-51.
Calafate, L. (2001). Psicologia Comparada & Etologia Clássica: o binómio instinto-aprendizagem. O Professor, 72, 45-54.
Castro Caldas, A. (2016). A Vida do Cérebro. Da gestação à idade avançada. Lisboa: Verso de Kapa.
Castro Caldas, A. & Rato, J. (2020). Neuromitos. Lisboa: Contraponto.
Chiamulera, C. (2019). Realidade Virtual. As chaves da interação entre tecnologia e cérebro humano. Atlântico Press.
Clayton, N.S. (1995). The neuroethological development of food-storing memory: a case of use it, or lose it! Behavioural Brain Research, 70, 95-102.
Cotrufo, T. (2019). Na mente da criança. O cérebro nos seus primeiros anos. Atlântico Press.
Damásio, A. (2020). Sentir & Saber – A Caminho da Consciência. Lisboa: Círculo de Leitores.
Darwin, C. (1871, 2009). A Origem do Homem e a Selecção Sexual. Lisboa: Relógio D’Água Editores.
Dehaene, S. (2014). Consciousness and the Brain. Deciphering How the Brain Codes Our Thoughts. London: Penguin Books.
Dehaene, S. (2018). Apprendre! Les talents du cerveau, le défi des machines. Paris: Odile Jacob.
Dierssen, M. (2019a). Como Aprende (e Recorda) o Cérebro? Princípios da neurociência para aplicar à educação. Atlântico Press.
Dierssen, M. (2019b). O Cérebro Artístico. A criatividade segundo a neurociência. Atlântico Press.
Dikker, S., Wan, L., Davidesco, I., Kaggen, L., Oostrik, M., McClintock, J., Rowland, J., Michalareas, G., Van Bavel, J.J., Ding, M., & Poeppel, D. (2017). Brain-to-brain synchrony tracks real-world dynamic group interactions in the classroom. Current Biology, 27, 1-6.
Forgays, D.G. & Forgays, J.W. (1952). The nature of the effect of free-environmental experience in the rat. Journal of Comparative and Physiological Psychological, 45(4), 322-328.
Francis, D., & Kaufer, D. (2011). Beyond Nature vs. Nurture. The Scientist, 1, October.
Gage, F.H. (2002). Neurogenesis in the Adult Brain. The Journal of Neuroscience, 22(3), 612-613.
Godfrey-Smith, P. (2017). Outras Mentes. O Polvo, o Mar e a Origem Profunda da Consciência. Lisboa: Círculo de Leitores.
Goleman, D., & Davidson, R.J. (2018). Traços Alterados. Lisboa: Círculo de Leitores.
Gould, S.J. (1995). A Vida é Bela. O Xisto de Burgess e a natureza da história. Lisboa: Gradiva.
Gregorio, P.G. (2019). Neurodegeneração. Alzheimer, Parkinson e ELA. Atlântico Press.
Hebb, D.O. (1947). The effects of early experience on problem solving at maturity. American Psychologist, 2, 306-307.
Hebb, D.O. (1949). The Organization of Behavior. A Neuropsychological Theory. New York: John Wiley & Sons.
Heisenberg, M., Heusipp, M., & Wanke, C. (1995). Structural plasticity in the Drosophila brain. Journal of Neuroscience, 15(3), 1951-1960.
Houdé, O. (2017). Des cerveaux en phase pour des élèves motivés. Cerveau & Psycho, 90, 86-87.
Kempermann, G., Kuhn, H.G., & Gage, F.H. (1997). More hippocampal neurons in adult mice living in an enriched environment. Nature, 386, 493-495.
Kempermann, G., Fabel, K., Ehninger, D., Babu, H., Leal-Galicia, P., Garthe, A., & Wolf, S.A. (2010). Why and how physical activity promotes experience-induced brain plasticity. Frontiers in Neuroscience, 4, 189.
Krebs, J., Sherry, D., Healy, S., Hugh Perry, V., & Vaccarino, A. (1989). Hippocampal specialization of food-storing birds. Proceedings National Academy Sciences USA, 86, 1388-1392.
Lázaro, J., Hertel, M. Muturi, M., & Dechmann, D.K.N. (2019). Seasonal reversible size changes in the braincase and mass of common shrews are flexible modified by environmental conditions. Scientific Reports, 9, 2489.
Maffei, L. (2018). Elogio da Lentidão. Lisboa: Edições 70.
Maffei, L. (2019). Elogio da Palavra. Lisboa: Edições 70.
Maguire, E.A., Gadian, D.G., Johnsrude, I.S., Good, C.D., Ashburner, J., Frackowiak, R.S.J., & Frith, C.D. (2000). Navigation-related structural change in the hippocampi of taxi drivers. PNAS, 11(8), 4398-4403.
Maguire, E.A., Spiers, H.J., Good, C.D., Hartley, T., Frackowiak, R.S.J., & Burgess, N. (2003). Navigation Expertise and the Human Hippocampus: A structural Brain Imaging Analysis. Hippocampus, 13, 208-217.
Maojo, V. (2019). Cérebro e Música. Entre a neurociência, a tecnologia e a arte. Atlântico Press.
Masson, S. (2015). Les apports de la neuroeducation à l’enseignement: des neuromythes aux découvertes actuelles. Approche neuropsychologique des apprentissages chez l’enfant, 134: 11-22.
Masson, S., & Brault Foisy, L-M. (2014). Fundamental Concepts Bridging Education and the Brain. McGill Journal of Education, 49(2): 501-512.
Mohammed, A.H., Zhu, S.W., Darmopil, S., Leffler, J.H., Ernforts, P., Winblad, B., Diamond, M.C., Eriksson, P.S., & Bogdanovic, N. (2002). Environmental enrichment and the brain. Progress in Brain Research, 138, 109-133.
Nithianantharajah, J., & Hannan, A.J. (2006). Enriched environments, experience-dependent plasticity and disorders of the nervous system. Nature Reviews Neuroscience, 7, 697-709.
Nordengen, K. (2018). O Poder do Nosso cérebro. Desvendando os segredos da mente humana. Lisboa: Planeta.
Ortiz Alonso, T. (2019). Neurociência em Casa. Mais do que os trabalhos escolares. Atlântico Press.
Pigliucci, M., Murren, C.J., & Schlichting, C.D. (2006). Phenotypic plasticity and evolution by genetic assimilation. The Journal of Experimental Biology, 209, 2362-2367.
Rampon, C., Jiang, C.H., Dong, H., Tang, Y-P., Lockhart, D.J., Schultz, P.G., Tsien, J.Z., & Hu, Y. (2000). Effects of environmental enrichment on gene expression in the brain. PNAS, 97(23), 12880-12884.
Rato, J., & Castro Caldas, A. (2017). Quando o Cérebro do seu filho vai à escola. Boas práticas para melhorar a aprendizagem. Lisboa: Verso de Kapa.
Ray, S., Li, M., Koch, S.P., Mueller, S., Boehm-Sturm, P., Wang, H., Brecht, M., & Naumann, R.K. (2020). Seasonal plasticity in the adult somatosensory cortex. PNAS, 117(50), 32136-32144.
Romoli, M. & Calabresi, P. (2019). Como nos movemos. Uma viagem ao sistema cerebral que controla o movimento. Atlântico Press.
Rosenzweig, M.R. (1996). Aspects of the search for neural mechanisms of memory. Annual Review of Psychology, 47, 1-32.
Rosenzweig, M.R. (2003). Effects of Differential Experience on the Brain and Behavior. Developmental Neuropsychology, 24 (2&3), 523-540.
Sacks, O. (1998). A Ilha sem Cor. Lisboa: Relógio D’Água.
Sagan, C. (1985). Os Dragões do Eden. Lisboa: Gradiva.
Sale, A. (2018). A systematic look at environmental modulation and its impact in brain development. Trends in Neurosciences, 41(1), 4-17.
Sepulcre, J. (2019). Redes Cerebrais e Plasticidade Funcional. O cérebro que se modifica e adapta. Atlântico Press.
Seung, S. (2013). Connectome. How the Brain’s Wiring Makes Us Who We Are. London: Penguin Books.
Sherry, D. (2006). Neuroecology. Annu. Rev. Psychol., 57, 167-97.
Sherry, D., Vaccarino, A., Buckenham, & Herz, R. (1989). The Hippocamal Complex of Food-Storing Birds. Brain Behavioural Evolution, 34, 308-317.
Solarz, S.C. (2019). Cyborgs. A fusão de mente e máquina. Atlântico Press.
Triglia, A., Regarder, B., & García-Allen, J. (2019). O que é a inteligência? Do QI às inteligências múltiplas. Atlântico Press.
van Praag, H., Kemperman, G., & Gage, F.H. (2000). Neural consequences of environmental enrichment. Nature Reviews Neuroscience, 1, 191-198.
Viosca, J. (2019). Mentes Prodigiosas. Fundamentos psicológicos e neuronais das capacidades excecionais. Atlântico Press.
Wiesel, T.N., & Hubel, D.H. (1963). Single-cell response in striate cortex of kittens deprived of vision in one eye. Journal Neurophysiology, 26, 1003-1017.
Wiesel, T.N., & Hubel, D.H. (1965). Extent of recovery from the effects of visual deprivation in kittens. Journal Neurophysiology, 28, 1060-1072.
Téléchargements
Publiée
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Luís Calafate, Sara Cesariny Calafate 2021
Ce travail est disponible sous licence Creative Commons Attribution - Pas d’Utilisation Commerciale 4.0 International.